30 de julho de 2012

O rio vira mar


minha memória sempre volta
à margem do rio que me viu nascer
onde, às vezes, me sentia distante
do mundo e do outro lado do norte

o grito do barqueiro mandando esperar
e a carretilha fazendo barulho
no cabo de aço grosso e comprido
parecia que sussurava “estou chegando”

à medida que vou envelhecendo
essas lembranças vão ficando submersas
e o rio vira um mar de esquecimento


29 de julho de 2012

Guardiões



Os anjos estão aqui na terra
com suas asas brancas de cristais
brilhantes como sóis
e cadentes como estrelas.


Hosanas e músicas sacras
invadem as igrejas
quando os guardiões
descem do céu
e visitam os homens de bem.

27 de julho de 2012

haicai

no bairro floresta
o cheiro de dama da noite
invade as ruas asfaltadas

Perfume clandestino

as mesmas mãos
que escrevem poemas
plantam flores
e guardam segredos

26 de julho de 2012

Saudade


Só o amor faz a alma leve
a saudade, essa não!

Faz a gente voar e viajar,
é verdade, mas sempre volta
para o peito preso
e apertado de lembranças.

Saudade é assim,
se não dói, machuca!
deixa as asas crescerem
e depois vem o vento forte e quebra-as.

Só o amor faz a alma leve!

23 de julho de 2012

serenata de graça



todas manhãs
este pássaro me acorda
parece serenata
de apaixonado

À deriva


Ah, se a solidão fosse
apenas uma pequena ilha
cercada de silêncio!
Mas, não é só isso não!

É um mar de ausências
navegando num barco sem velas
sem bússola e sem cais.

Equilíbrio

A alma e o corpo
um dia, acabam;
o espírito, não!

A alma agasalha
a mente que controla
a emoção e a vontade.

O corpo que é só morada
dá trabalho sempre
e precisa ser alimentado
todos os dias.

O espírito, sopro divino,
esmera a intuição,
liga as coisas visíveis
com as invisíveis
e equilibra o homem
aqui na terra.

17 de julho de 2012

Amor de mar


Quem vive do mar
sabe que as águas se tornam abismo
separa quem fica de quem vai.

Quem ama quem vai pro mar
sofre muito mais
porque fica em terra
esperando quem foi
e nunca sabe se vai voltar.

14 de julho de 2012

Na noite não há nada

Quem esconde da luz
Não pode caminhar
Porque só se caminha de verdade
Na claridade do dia
E não na calada da noite.

Quando as estrelas brilham
Não há mais nada pra fazer
Tempestade em alto-mar
Não serva pra nada
A não ser destruir e matar
Quem está na praia.

Promessas amorosas não realizam
Sonhos de ninguém
E muito menos enxugam lágrimas
De quem perdeu uma jornada
Procurando um grande amor.

haicai

na estação do inverno
nasceu uma linda flor
perto da cerca do quintal

10 de julho de 2012

Memória


A memória é uma faca
afiada,
que corta a nossa alma,
penetra e mata como uma bala
perdida.

Cada segundo perdura
como a interminável eternidade
enclausurando silêncios,
prenúncios e palavras.

A memória é uma luz
fugaz,
que penetra como chama reluzente
nos olhos e nas lágrimas
dilacerando a visão e a ternura.

A memória é uma estrada
projetada,
que traça o destino
de quem vai pela manhã
e não volta ao entardecer.