29 de janeiro de 2013

silêncio e dor

 Foto site: http://g1.globo.com


na casa noturna do sul
a madrugada não amanheceu
o silêncio não deixou
o dia romper a escuridão

a cidade ficou sem mapa
sem bússola e sem calendário escolar
apenas um interminável adeus
nas primeiras horas
de um domingo incomum
e cinzento

haicai



só os grandes rios –
esperam a hora certa
para dar o beijo salgado

28 de janeiro de 2013

frágil

a tragédia do sul
revela a fragilidade
de uma sociedade corrupta

27 de janeiro de 2013

haicais

Chove lá fora.
A enxurrada desce
até encontrar o bueiro
De repente, chove!
Os pássaros param de cantar
para procurar abrigo


As nuvens escuras
trouxeram a chuva fina
de molhar os bobos

24 de janeiro de 2013

Porta-Retrato

O meu amigo e poeta Luiz Dias está sempre me surpreendendo com a sua linda e apaixonante poesia

O peso tomou conta de nós.
A hora de se arranjar tempo para ficarmos juntos,
sumiu nas 24 horas.
Você tem que dormir,
levantar cedo.
O tempo acabou
para a flor brincar com seu cabelo,
para o vestido bonito,
que ficava pouco tempo no seu corpo.
O vinho tinto azedou, de tanto esperar.
Suas mãos já não conhece mais meus cabelos, meu rosto, meu corpo,
e as minhas mãos se perderam na correria de não estar.
Nosso tempo, no passado, ficou.
Eu coloquei você na estante
e seu sorriso ficou lá, e, de tão ausente,
eu não consigo mais te trazer, para ser presente.

Luiz Dias

haicais



as árvores da quadra
abrigam lindos pássaros
nos dias ensolarados

a algazarra das crianças
no gramado da quadra
incomoda até o quarteirão
o pica-pau da cabeça
vermelha salta nos galhos
até encontrar o tronco

22 de janeiro de 2013

Grupo escolar

as minhas narinas
sentem o cheiro do lápis
de cor da minha infância

o pó do giz branco que invadia
toda a sala de aula
e a professora Aparecida
terminava o turno de bigode

ah! também não posso esquecer
o atlas todo azul mostrando
que a terra era redonda e azul.

a maior novidade dos tempos de escola,
o caderno de capa dura de tecidos
coloridos e dividido em matérias,
com suas linhas vermelhas na margem

ainda sinto o cheiro
das toras que eram serradas
nas máquinas da oficina do Braz
quando voltava do grupo

do Maria Guilhermina guardo
os cheiros até hoje em pequenos
lampejos da memória e da saudade
para nunca os perder, nunca, jamais!

19 de janeiro de 2013

Bodas - poema em dois tempos

ao casal Sílvio e Fernanda, pelos dez anos de bodas



1


a vida é feita de sonhos
há os que sonham só
horizontes
e há os que apreciam apenas
nuvens
mesmo quando um homem
e uma mulher se encontram
faltam-lhes visão e alma
e por isso pensam que amam,
mas não amam;
um, é sal, o outro, pele
e quando se casam
apenas lindas promessas



2

vem os ventos fortes
derruba a casa
apaga as pegadas
e esconde os sorrisos
é preciso que venha do alto
o fogo que queima
e o amor que permanece
cem, duzentos, mil e eternamente
para que haja a verdadeira
troca das eternas alianças


bh, 18/1/2013

15 de janeiro de 2013

haicais

depois da chuva
a vara de bambu
vira linha de anzol


no terreno da quadra
ontem, durante a forte chuva,
uma árvore tombou


quando o sol surge
o bem-te-vi aparece
no gramado da quadra

13 de janeiro de 2013

Beiral



 Este poema ficou entre os sete escolhidos, no Concurso Literário
Yoshio Takemoto,
tema livre, na categoria Poesia em Língua Portuguesa (publicação acima)

Da janela avisto
O rio que me banhou
Enquanto lá longe,
Fora do meu alcance.
Ouço o silêncio da rua asfaltada
E percebo o vazio que ronda os transeuntes.

Esse rio que corre dentro de mim
Corre sempre para o mesmo lugar.

Antes de nascer já conhecia o caminho
Fui escolhido para resgatar distância
E escutar a algazarra das crianças
Jogando bola no terreno baldio.

Do beiral da janela
A brisa alvissareira
Carrega os meus desejos
Nas asas soltas dos pássaros.

6 de janeiro de 2013

amor de mar

quem vive do mar
sabe que as águas
se tornam abismo
separa quem fica
de quem vai

quem ama
quem vai pro mar
sofre muito mais
fica em terra
esperando
quem foi
e nunca sabe
se vai voltar

1 de janeiro de 2013

haicais

no hemisfério sul
a estação do verão
presentea o ano-novo

eis que todas as coisas
sempre se fazem novas
no primeiro dia de janeiro

 promessas são feitas
todas as vezes que o ano
se renova aqui na terra

  
fogos de artíficios pipocam
nos céus das grandes cidades
para atrair gentes estrangeiras

na última sexta-feira do ano
o imaginário coletivo do povo
mergulha em crendices antigas