28 de agosto de 2024

Resenha Literária

É uma árdua tarefa escolher os 10 poetas mais românticos da nossa literatura brasileira. A tarefa não é nada fácil, a poesia nacional é riquíssima e cada um dos autores escolhidos facilmente poderia ter outros belos poemas incluídos, principalmente quando aparece na lista o "poetinha", como ficou conhecido Vinícius de Moraes, é se deparar com um manancial de poemas de amor. Envolveu-se também com música, dramaturgia, jornalismo e, por 26 anos, trabalhou como diplomata. Mas, primordialmente, era um poeta. Era apaixonado pela vida boemia e pelas mulheres, e como! Vinícius casou nove vezes, deve ter composto no mínimo cem poemas para cada paixão. O poema mais conhecido talvez seja o "Soneto da fidelidade". Mas eu gosto muito do poema "Poema dos olhos da amada", quem tiver um tempinho a mais não deixe de ler esse lindo poema.


Poema da fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

23 de junho de 2024

ainda IV

o meu tempo não é o tempo de Deus

porque eu conto somando as estações

mas Deus mede com a régua da bondade


eu apenas adiciono dias que acordo alegre

e acrescentando as noites que a lua brilha

mas Deus transforma um dia em mil anos

20 de junho de 2024

ainda III


eu estou atravessando meu deserto

e continuo firmemente

olhando para frente sempre


a minha hora ainda não chegou

não posso nunca desaminar

porque é plano de Deus


se não fosse um projeto de Deus

o mar já teria transformado em deserto

e eu não estaria respirando o ar puro


eu ainda tenho um caminho a percorrer

eu ainda preciso transbordar como um rio

eu ainda posso andar por cima das águas

16 de junho de 2024

ainda II

eu ainda estou vivo

porque quando Deus criou

o mundo pensou em mim


eu ainda caminho por estas bandas

porque Ele guia meus passos dia e noite

e não me deixa tropeçar nas pedras


eu ainda respiro ar puro

porque Ele manda a chuva

na hora e na estação certas


eu ainda não cai nos abismos

porque Ele segura com firmeza

meus pés vacilantes e mãos trêmulas

3 de junho de 2024

Longevidade

                  à centenária dona Maria Fernandes 


Há pássaros

que voam no céu azul

mas só têm arvores e ninhos


Há peixes

que vivem nos mares e nos rios

mas não podem ver as estrelas


Há borboletas

que são lindas, leves e soltas

mas só sobrevoam matas e jardins


Há flores

que são belas, raras e coloridas

mas só ornam festas, velórios e altares


Há homens

que guardam o sábado ou o domingo

mas desobedecem tantas outras leis divinas


Há uma mulher

que tem um lar e um prédio  de esquina

vive em harmonia com o céu e a terra

onde o sol brilha todos os dias


Há uma mulher

que acalenta os filhos dos filhos

cuida dos netos, bisnetos e parentes

e festeja com alegria cem anos de idade


Há uma mulher

forte e de rara docilidade

escolhida e abençoada por Deus


 

                               Conselheiro Pena, 3/6/20204

7 de julho de 2023

Bons tempos


 

nas tardes quentes de verão,

colhia frutas maduras no pé,

na fazenda da dona Eulina;

à noite, à beira do rio doce,

contava as estrelas do céu

e, nas manhãs, bem cedinho,

pegava a bicicleta “monarc”

para comprar pão na padaria

do seu Oscar e da dona Marta.

 

tudo era tão certo e contado,

como dois mais dois são cinco

de uma velha canção da época,

nada saía dos trilhos ou da trilha

que levava para a rua da pedra,

nos jardins da praça da matriz

desfilavam as moças e os rapazes

à procura de seus pares e seus amores,

parecia sempre fácil e bem simples.

 

Hoje, relembrando esses bons tempos,

sou apenas uma pausa entre a canção

e o silêncio que antecede a espera

de um momento e de uma enorme saudade.

 

25 de abril de 2014

Eteceterááá

eterna homenagem “in memorium” aos doidos que invadiram a minha infância, minhas fantasias e as ruas da cidade



na minha cidade
morava um doido
chamado clemente
que gritava rua afora:
“quando o homem anda,
o mundo descansa”;
e, eu não entendia nada,
assim como não sabia
o que era eteceterááá
aprendi essa linda expressão francesa
e muitas outras coisas.