23 de junho de 2025

Pequenos poemas

 

a transitoriedade e a realidade

 

 

ledo engano

 

quem pensa o morro do Rio de Janeiro
assassina muitos inocentes
nunca ficou defronte da televisão
vendo uma reunião do congresso
no dia que tem votação ao vivo.
 

aquilo ali sim, é chacina cruel!

 

leito esplêndido

o rio Doce dorme em seu leito esplêndido
agora a água que desce boi não bebe
peixes e crustáceos não respiram.

morre a cada manhã
solitário e silencioso
não tem mais banhistas em suas margens.

linguagens

não precisa falar que está gostando
faz apenas um sinal qualquer
- eu sou um bom entendedor
fiz curso rápido de libras
e outro bem intensivo de elétrica.

 

maria-fumaça

a minha vida toda
andei de trem
quando nasci
os trilhos passavam
perto da janela do quarto
onde eu dormia e crescia

o apito, a fumaça pareciam magia
antes mesmo do cinema
existir e perpetuar as imagens
o solavanco dos vagões
a vagareza da máquina
deslizando suavemente
tudo era só encantamento.

ainda sinto o cheiro do capim
balançando entre os trilhos
e os dormentes de madeira.


minha avó e a vaidade

minha avó Filinha era muito lúcida
sabia como ninguém aproveitar a vida
depois de criar sete filhos sozinha.
 

ela gostava mesmo era pentear
os cabelos grisalhos todas as tardes.

 

não adianta mais...

quando alguma coisa dava errado
meu pai dizia: "agora a Inês é morta"
 em Portugal, não é bem assim não!

a Inês mesmo morta foi coroada rainha.

 

moradores do congresso

se a Espanha tem a Catalunha
que quer a liberdade
nós, aqui, no Brasil
queremos ficar livres
dos corruptos moradores do congresso.

a insatisfação é a mesma
só em continentes diferentes.

 

 

não é bem assim

meu caro, não fique lamentando!
o rico tem mordomos, carros e iate
parece até que tem tudo e do melhor
mas, não é bem assim, não tem amigos!

 

não era

não era para ser assim
alguma coisa no meio do caminho
fez o trem sair dos trilhos ... o que eu não sei...

a vida continua... não era para ser assim...

 

o espiral e o tempo

não me pertence
tudo que fui não sou mais
virou um enorme deserto
todos os lados que olho
parecem distantes e vazios.

por onde andei não ando mais
os pés cansados e os olhos embaçados
caminho por estradas tortuosas
que me levam para lugares sinistros
o tempo está a toda hora mais escasso
os meus segredos já foram revelados
as minhas palavras já foram escritas
tudo que penso não vale mais nada
agora eu vou dormir e esperar a noite
nem o sono não me pertence mais.

 

não quero não!

se merece condenação
quem fala de saudade
prefiro prisão perpétua!

morrer, não quero não!

nem alimentar saudade que nunca tive
o meu passado não me condena.

 

não se repetem

 às vezes, os dias duram pouco
muito pouco mesmo!
mas, não se repetem nunca.

a nossa memória pensa o contrário.

 

nem túnel nem fim

tolice pensar que vai melhorar
sinto muito ter que dizer isso!

os corruptos são protegidos
e os honestos não conseguem unir.


(aguardem os próximos poemas do meu livro eletrônico inédito: Pequenos poemas)

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