27 de abril de 2011

Clarão da madrugada

à Maria Ângela Coelho Magalhães (Virginópolis-MG)

Igreja Matriz de Virginópolis (MG)

não sei por onde
você anda agora, Ângela!
deixei a sua acolhedora cidade,
no último clarão da madrugada,
no meio do festival de jabuticaba.

e nunca mais a vi,
penso em você andando
pelos comodos daquele casarão.

imagino que as madrugadas da cidade
ainda continuem frias
e silenciosas como eram
há muitos anos atrás.

ainda me lembro das flores silvestres
enfeitando as ruas e a praça da Matriz.

26 de abril de 2011

As vozes

Há uma melodia
Nas palavras
Como há sons nas nuvens.
Basta ficar atento
Ao canto.

Há uma melodia
Na correnteza do rio
Que procura o mar.

Há um apelo
No silêncio da noite.
Basta saber ouvir
E ficar atento.

Há sempre uma canção
Na voz infinita do tempo.
Basta ficar atento
Ao vento.

25 de abril de 2011

haicais

para os galos do quintal
a noite não tem mistérios
cantam para despertar o dia.

mais leve que o pássaro
é o seu canto livre
no fim de uma bela tarde.

o ipê amarelo plantado
no canteiro central
enfeita toda avenida.

C.P.

quando atravesso a ponte
viro um passarinho
atraído por cobra.

o coração dispara
as pernas tremem
e os olhos lacrimejam.

se é saudade, eu não sei!
agora que é nostalgia
ah isso eu sei que é.

22 de abril de 2011

haicais

os ariscos sanhaços
não resistem ao banquete
que as figueiras oferecem.

o sol desponta
o lagarto sem pressa
toma um banho demorado.

o verão não traz
só as chuvas e os trovões
traz o alento do ano-novo.

na mata virgem
as plantas crescem
e dão frutos o ano inteiro.

sexta-feira santa


da varanda da sala
ao fogão de lenha do quintal
a minha casa guardava o dia santo
e aguardava a tarde de sexta-feira
ser encoberta pelo sábado de aleluia
e pela alegria da malhação do judas.

sexta-feira era o dia que não varria a sala,
não prendia os cabelos
nem brincava de cobra-cega.

a cidade mergulhada no silêncio
esperava os sinos da igreja
anunciarem a Ressurreição de Jesus
para começar a procissão e a cantoria.

20 de abril de 2011

choro infantil

à minha sobrinha-neta

a Valentina trouxe
leite materno
e afeto com cheiro
de criança.

boca pequena
cabelo liso
pingo de gente.

o seu choro infantil
desperta em toda família
enorme desejo de viver.

reencontro

ao Wanderlan

os nossos passos,
uns são largos,
outros lassos.

entrelaçados pelo tempo,
noutros espaços,
a bola aviva
nossas lembranças.

19 de abril de 2011

Bailarino

Ao meu amigo Leonardo Mordente


Não há limites
No corpo de um bailarino
Seus gestos ultrapassam
A capacidade da imaginação.

Nenhum movimento
Pode ser proibido ou inibido
Quando o bailarino
Entra em cena.

A dança confronta
O provisório e o definitivo.
O transitório e o infinitivo.

18 de abril de 2011

O mesmo

somos marinheiros
do mesmo barco.
atravessamos tempestades,
superamos ondas
e chegamos no mesmo cais.

cada um tem seu próprio remo,
mas o mar é o mesmo.

1 de abril de 2011

haicai

as abelhas retiram
da flor-do-cerrado, caliandra,
toda doçura do mel.