29 de novembro de 2011

voo

viver é pouco,
muito pouco,
quero mais

ser apenas suave
e alçar voo feito ave

A vida está por aí

se vou por aí
vou preencher os vazios
que o dia de trabalho
não conseguiu preencher

as notícias dos jornais
não me dizem nada
ou quase nada
daquilo que a vida
deixou transparecer

a vida está por aí
na boca do povo
nas esquinas das avenidas
no universo de cada coração
e nas palavras perdidas

27 de novembro de 2011

A cabeleira da minha avó

A mesa posta,
minha mãe,
chamava a família
para o almoço.
Cada um guardava
os seus medos e brinquedos.
Ninguém se sentava
na cabeceira da mesa.

Meu pai, do outro lado
da mesa, se servia primeiro
e dizia pra ninguém encher o prato
porque é falta de educação;
repetir, pode;
mas encher o prato, não!
Depois os meus irmãos mais velhos;
a minha irmã mais nova,
com uma boneca de pano,
brincava de comer arroz com feijão.

E eu, do outro lado da mesa,
via minha avó enrolar a cabeleira
aguardando a sua vez.

24 de novembro de 2011

As lembranças


Não há nada seguro
no presente
e muito menos
no futuro.

Lidar com as lembranças
é como caminhar
no escuro.

Tudo é permitido
a um coração saudoso
que mora na casa do silêncio.

As manhãs

Quando a nossa vida
Já está apreciando
As tardes solitárias
É muito difícil
Querer voltar
Naquelas manhãs
Daquele dia
Que quase choramos,
Ou pensamos que fomos felizes.

Ou, quem sabe, naquele outro
Que ficamos na chuva
Esperando o sol
Iluminar e brilhar
A vida.

19 de novembro de 2011

haicais

o apito do guarda noturno
pela manhã espanta a ave
e alerta o ladrão

os pássaros brincam
na janela por comida
fresca e saborosa

a aranha caseira
prende o besouro
com sua teia fina

15 de novembro de 2011

haicais

floresce no verão
a Perpétua é muito rara
e nativa do cerrado

a jaca nasce no tronco
tem a polpa perfumada,
suculenta e saborosa

os insetos de flor em flor
procurando alimento
ajudam na formação do fruto

vários países utilizam
uma espécie de jacarandá
para arborizar suas ruas e praças

12 de novembro de 2011

berço


Quanto mais longe do mar
Mais escuto o barulho das ondas.

Fecho os olhos
E guardo a memória dos rios.

Eu não nasci
Vim do mar.

Ferrujão


A sede da Fazenda Ferrujão
Com suas janelas abertas
Acolhendo os primeiros raios
Da manhã silenciosa
Desperta todos os dias
A minha saudade e memória.

Breve

Que seja breve.

Ainda que muito breve
Como bater de asas
De um colibri.

Ainda assim vale a vida
Vale a pena viver.

11 de novembro de 2011

Diáfana


A vida é feita de peso
E vento.
Ora enredo, ora só tropeços.
Sempre entre duas colunas:
Brisas e brumas.

Todos sabem que a vida
É um voo livre
E improvável.
Um fio tênue
E solto no ar.

Mesmo assim os homens
Só fixam os olhos
No largo horizonte
Que descortina
Todos os dias no céu.

Miragens


Quem nunca brincou
De nuvens-miragens
Já nasceu adulto
E nunca olhou para cima.

Quem nunca reparou
Que as nuvens têm raça,
Sexo, tamanho e sentimento.
Umas são brancas; outras, negras.
Umas são femininas; outras, masculinas.
Umas são suaves; outras, áridas.
Umas sempre vão, vão e vão
Outras estão sempre voltando.

Olhando as alturas
Sei quanto sou pequeno
E quanto é bom fazer de conta.

quando ela vem


que a chuva vem,
isso eu sei.
que ela vem de longe,
de muito longe,
isso eu sei.
que ela faz as flores
espalharem pelos campos,
isso eu sei.
que ela enche os rios
e as cachoeiras que, um dia,
vão tranbordar o mar,
isso eu sei.
e por ela não ser de ninguém
ninguém sabe quando ela vem.

9 de novembro de 2011

Borboleta



depois do voraz
apetite, caminha,
preguiçosamente a lagarta,
procura no alto
da árvore, um galho seguro
e escondido
para o transformismo
quase mágico
asas, cores e liberdade

5 de novembro de 2011

2 de novembro de 2011

haicai

o sol não apareceu
no dia em que os vivos,
tristes, visitam os mortos