28 de fevereiro de 2011

as minhas minas

as terras em que nasci
foram moldadas
pelas águas salgadas
do mar e pelos ventos
ao longo de milhões
e milhões de anos.

sulcadas por íngremes
penhascos e enormes
abismos sem fim.

quando as águas dos mares
formaram os continentes conhecidos
deixando as minhas terras
adornadas por matos,
bosques e prados,
marcando a paisagem
com o seu majestoso relevo.

26 de fevereiro de 2011

sexagenário

a vida é muito curta
cabe numa régua de 60 (cm)
em linha reta.

por isso tudo que vem depois
é que me interessa
não tenho mais pressa.

tudo é breve, acredite!
até um dia ensolarado
acaba, anoitece.

só vale a dois

felicidade só vale
se for a dois
lado a lado
porta aberta
e janela escancarada.

felicidade só vale
se tiver aliança no dedo
brilho nos olhos
coração batendo forte
caminho sem pedras
céu sem tempestade
e noite de lua cheia.

felicidade só vale
quando coração estremece
e espera o inesperado.

haicais














ao cair da tarde
os sinos da igreja
anunciam a ave-maria.














o verão chegou
trazendo muita chuvas.
As cidades que se cuidem!















quanta beleza
traz a lua cheia
para a cidade grande.

20 de fevereiro de 2011

fuso


acabou o horário de verão
os ponteiros foram atrasados,
mas as marcas do tempo,
a rota dos ventos
e o curso das águas claras
continuam rompendo a madrugada.

Memória de jardins

Jardins do Palácio das Laranjeiras (RJ)

Os vagalumes, os pássaros,
as cigarras e as formigas
restituem-me a memória.

as borboletas flutuando no ar
sempre mudas tentam desvendar outros tempos.

e eu, aqui e agora, tanto tempo depois,
continuo vivendo o que já vivi,
vi e ouvi nesses jardins urbanos de cimento
e nessas flores de mármore importado.

não decifro os abrolhos, os abismos,
os horizontes e os segredos da vida.

De onde que vem

de onde que vem o amor
- do coração.

de onde que vem a paciência
- da solidão.

de onde que vem a paixão
- dos olhos.

de onde que vem a canção
- dos ventos.

de onde que vem o carinho
- das mãos.

de onde que vem o fim
- do começo.

Um dia nublado

quem não corre perigo
não alcança nada
não vai a lugar nenhum
não vê o brilho do amanhecer
nem percebe o colorido do mundo.

quem não corre perigo
é apenas uma sombra escondida
de um dia muito nublado.

19 de fevereiro de 2011

Contadora de estória

estórias contadas mudam
destinos, vidas e pessoas.

quem conta estórias
conhece o rio e suas margens
sabe que a vida tem começo,
meio e fim para começar de novo.

a contadora de estórias sabe
que a noite guarda mistérios,
segredos e enredos
e é no coração que nasce
a bondade, o ódio e a solidão.

e a melhor estória
é a que fala de gente,
de bicho e de assombração.

18 de fevereiro de 2011

Bicho feliz

Gosto muito das coisas que o Luiz escreve:

Um bicho me espreita.
Uma flor me olha.
Um rio me fala.
Uma lua me acha.
A formiga carrega a árvore,
E o peixe, o rio dentro dele.

Eu carrego a vida,
que ainda é minha.
Tudo passando no mundo,
E você ainda me espera,
Como primavera que chega.

Luiz Dias

Dois terços

Na cabeceira
Da minha cama
Tem dois terços
Um, pra pedir;
Outro, pra agradecer.

Rezo quando a corda
Estica demais.
E fico com medo de arrebentar.

Rezo quando chove forte.
Peço para afastar as tempestades
Da minha vida.

Só então adormeço,
Confiando na promessa
Que vou acordar (amanhã)
Em um dia pleno de luz.

17 de fevereiro de 2011

Exegese I

o céu não conspira contra
nem a favor;
tanto é verdade
que o sol brilha para os bons
como para os maus;
assim como difere
o brilho da claridade do sol,
da lua e das estrelas.

cada um tem a própria luz.

o céu e o mar vão continuar
cobrindo e dividindo a terra.

a função da figueira
é produzir figos no tempo certo,
a da laranjeira, laranjas;
e assim por diante.

vive mais quem sabe compreender
avança mais quem sabe esperar
ama mais quem se deixa ser amado.

12 de fevereiro de 2011

Não posso

à Ana Maria



Eu não posso viver
Sem você.
Você é o caminho dos meus passos
A luz da minha vida
O sol do meu dia
E as estrelas da minha noite.

Eu não posso viver
Sem você.
Onde vou chegar?
O que vou fazer?
Onde vou morar?
O que vou esperar?
Como vou caminhar?

Eu não posso viver
Sem você.
Você é a areia do meu deserto
A flor do meu jardim
A água límpida do meu rio
As ondas do meu mar
E a canção da minha vida.

Eu não posso...
Sem você.

11 de fevereiro de 2011

Declaração de bens

Quando um banco
Me liga oferecendo vantagens
Penso na fila
E no aviso que o sistema
Está fora do ar.

Não tenho tanto dinheiro assim
Pelo contrário, está sempre faltando.

Tenho livros empoeirados,
Poemas guardados,
Unhas encravadas,
Carro velho,
Celular antigo
E uma resma de papel
Em branco
Esperando um poema
Que ainda não escrevi.

1 de fevereiro de 2011

enquanto eles não chegam...

à minha amiga Patrícia Couto Bernardes (futura mãe de gêmeos)

enquanto eles não chegam...
o amor hiberna
faz inverno no coração
e na monotonia do casal.

só as coisas ternas
fazem milagres na vida
ela, a mãe, é só ternura
e ele, o pai, eu não sei
mas teve ter respingado
alguma coisa dela no seu coração.

enquanto eles não chegam...
a boca da mãe é só sorriso
alegria misturada com felicidade
faz os sonhos em dobro
e preocupação com o carrinho
de um ou de dois lugares.

quando os gêmeos nascerem...
dois berços, várias mamadeiras
e muitas fraldas e... mais fraldas.
(não era isso que eles esperavam
mas felicidade pouca é bobagem!)