Ah, como eu gostaria
Tem o espírito dos pássaros
Que não se apressam
Não precisam de códigos,
Leis ou estatutos
Para continuarem sendo
O que sempre foram: pássaros.
Não têm mágoas ou ressentimentos.
Não têm tempo para aflição.
Não se preocupam
Com o que vão comer amanhã.
Ah, como eu gostaria
Ser um pássaro e sair voando por aí!
31 de outubro de 2008
Sair voando
30 de outubro de 2008
Uma elegia de quarta-feira
Na sala fria que passo o dia
Preciso aprender a ficar calado
Como um avestruz no deserto.
Na sala de janela de vidro
Fico invisível na cortina
E transparente na paisagem.
No ambiente onde trabalho
Mãos de mulheres novas
Cheias de ternura e solidão.
Nos corredores de labirintos
Não sou poupado das aflições
Oferecem-me absinto e veneno.
O vento não abafa as palavras
Que são proferidas contra mim
Nos entremeios do fim do dia.
As ciladas que armaram
Naquela sala sempre fria
São velozes como águias do céu.
Na sala fria onde trabalho
Não há sombra, luz, cor
Nem o atlântico nem o pacífico.
Em pleno horário de verão
A sala muito ampla fica cada dia
Mais fria, infalível e resplandecente.
E aquilo que eu não posso fazer
Deixo reteso o arco com suas setas
Para o alvo oculto dentro do meu coração.
Na sala fria caçam-me como um pardal
Mudo, calado sem nenhum canto
Invadindo as árvores, os muros e as ruas.
Na sala fria de paredes brancas
Espreitam contra os meus passos
E distorcem as palavras dos meus lábios.
Na sala sem cheiro, sem gás e sem pó
Vejo o fim que se aproxima
Como uma estrela do hemisfério sul.
Na sala fria tenho que ficar impávido
Entre sombras embriagadas e gasosas
Sem poder, sem paixão e sem alma.
Nesta sala fria não cabe nada
Nem a minha voz de sangue e estridente
Nem meus cabelos alvos: “aqui não ficarão”.
29 de outubro de 2008
28 de outubro de 2008
27 de outubro de 2008
Brincam com o vento
21 de outubro de 2008
Jardineiro
a minha homenagem à Rosilene Guedes Souza
Todos jardineiros são felizes.
Porque cultivam o próprio jardim.
E lidam com o espaço, a cor e a luz.
Jardineiros são alquimistas
Embebedam as abelhas
Que buscam o mel
Para produzir a cera e o própolis.
Todos jardineiros são felizes
Porque retiram do húmus seiva,
Perfume, sabor e proteínas.
É por isso quero ser jardineiro.
Vai chegar
20 de outubro de 2008
19 de outubro de 2008
Poema IX
17 de outubro de 2008
Ali
16 de outubro de 2008
15 de outubro de 2008
14 de outubro de 2008
12 de outubro de 2008
Ladram nas madrugadas
Na cidade onde morei, isso há muito tempo, uma mulher chamada Mabel cansada de ver a cidade sendo invadida por cães de todas as raças, resolveu fazer um alerta para todos os moradores da cidade (principalmente os anciãos, notáveis e políticos) que os mesmos cães que lambem as latas de lixo, reviram os sacos plásticos, ladram nas madrugadas e dormem com as mulheres e as crianças, esses mesmos cães, devorarão todos os membros das famílias da cidade. Porque gente virou cão e cão é tratado como gente.
11 de outubro de 2008
À beira de um rio imaginário
Deixei meus passos
Lancei minhas redes
E assim fui tecendo minha vida.
Sentado à beira de um rio que não existe mais
Fui com a agulha de bambu emaranhando laços e nós.
Como um velho pescador cansado da lida
E nas manhãs quentes de um dia qualquer
Olhando para o barco na praia deserta e distante.
Deixei meus passos nas areias
Mas não deixei meus sonhos entrar em águas profundas.
Os passos a maré apagou, os sonhos não!
10 de outubro de 2008
Padre Antônio Vieira
A 6 de Fevereiro de 1608 nasce Antônio Vieira, na freguesia da Sé, em Lisboa. O pai, de origem modesta, provavelmente com ascendência africana, é destacado como funcionário para a Relação da Baía. Melhorava de vida e fugia à opressão filipina. Antônio Vieira é baptizado na Sé, segundo parece na mesma pia batismal em que o fora Fernando Bulhões, o famoso Santo Antônio de Lisboa, por quem o futuro pregador jesuíta sempre manifestará grande admiração e devoção. A minha modesta homenagem a Padre Antônio Vieira aos seus quatrocentos anos de nascimento.
Conhecedor dos hábitos palacianos
Fervoroso defensor da figura do rei
Comparava o quinto império de Portugal
Com as riquezas do soberano Salomão.
Deus criou todos os seres viventes
Para rastejar, voar e andar livremente
Mas só o homem poderia dominar toda terra
Incluindo as águas doces e salgadas.
No entanto, astúcia, argumentos e idéias
Deixou por herança e todos os direitos
A um padre jesuíta e missionário aventureiro.
Sempre intolerante com os pecados humanos
Eloqüente nas hipérboles e nas parábolas
E irônico em relação aos seus compatriotas.
8 de outubro de 2008
Nos trilhos
haicais
6 de outubro de 2008
Antes de mim
Antes da vida humana
Já havia o grão de areia.
Antes da doença
Já havia as ervas curativas.
Antes das palavras
Já havia a doçura do mel.
Antes da imortalidade
Já havia a abundância das estrelas.
Antes de tudo existir
Existia um Deus que cuidava de mim.