29 de junho de 2013

insônias

que noites longas são essas
quando ficamos acordados na madrugada

os dias ficam mais longos
e perdemos a certeza de que o dia
permanece com as mesmas horas

parece que nunca vai amanhecer

ensina-me

ensina-me a contar as areia do mar
aprendi apenas a nadar no rio Doce.

ensina-me a soltar pipas coloridas
aprendi apenas a esconder das tempestades

ensina-me a alçar voos sem ter asas
aprendi apenas as metáforas gramaticais

ensina-me a ajuntar as nuvens do céu
aprendi apenas a procurar agulha no palheiro

ensina-me a desfrutar das coisas boas do mundo
não aprendi a olhar este mundo com bons olhos

28 de junho de 2013

diferente

melhor que ter muitos amores
é ter um amigo de verdade
amores, às vezes, passam;
amigos, esses, não!

amigos não ferem;
se ferem, cicatrizam!

amores, esses, machucam:
e se machucados, sempre doem!

amigos calados são suportáveis
amores silenciosos, não!

26 de junho de 2013

saberes

ter asas não basta,
é preciso muito mais,
galinha tem asas
mas não sabe voar

o melhor mesmo é não ter asas
mas, ter liberdade para voar

21 de junho de 2013

família

quando minha família reunia
a mesa era farta
as taças cheias
a lenha ardia no fogão
meu pai no canto da sala
minha mãe com a barriga no fogão
e os convidados alegres
comiam e bebiam o que havia de melhor

20 de junho de 2013

embarcações

nas águas límpidas do rio Doce
haviam dois tipos de embarcações:
as canoas feitas de tábuas
e os caíques feitos de troncos
que deslizavam leves como plumas
de uma margem para a outra.

18 de junho de 2013

barquinhos de papel

depois da chuva bem forte,
menino ainda e argonauta sempre,
fazia barquinhos de papel
para descer a enxurrada
até chegar ao córrego joão pinto pequeno

quando isso acontecia, era só alegria!
A nau encontrou o Velocíno de Ouro!

15 de junho de 2013

Rio Doce II


sujaram as águas do rio
que traziam a lua e as estrelas
pra bem perto da terra e de mim.

hoje, apenas um esgoto a céu aberto.

12 de junho de 2013

quase

cai na cisterna, quase morri
a vizinha foi quem me salvou
colocando água quente nas costas

eu era muito pequeno para morrer
a morte só mostrou os dentes
não quis dá as caras, ainda bem!

10 de junho de 2013

retorno

tudo que vai, volta.
é mentira!
lágrima que cai, não retorna
palavra dita, nunca volta
ponteiros do relógio pulam
de segundo em segundo, já é outra hora

nada volta, tudo tem seu curso
sua trajetória, seu ritmo
tudo se renova a cada dia

não retorna não!

6 de junho de 2013

tacho de cobre

no fundo do quintal
lá de casa tinha uma figueira

minha mãe, doceira de mão cheia,
conseguia tirar doçura e textura
daqueles frutos verdes e leitosos

minha mãe, fazia magia no tacho de cobre

1 de junho de 2013

forno de barro

ainda vem, da minha infância,
os cheiros da quitanda
que a minha avó materna fazia
no forno de barro do fundo do quintal

essas imagens ora no presente
ora no passado fluem em mim

esse tempo ainda me habita
me atrai e me acompanha sempre!

são faróis que me guiam
em dias nublados como hoje
os pássaros não podem cantar
mas, a minha alma grita,
porque memórias e saudade
andam sempre juntas