22 de fevereiro de 2010

haicais

ontem as cigarras
cantavam tanto;
hoje, tênue silêncio

os pássaros sabem
que os frutos maduros
são para os seus bicos


o brilho da lua
ilumina a rua
que me viu nascer

haicais

a lua cheia
enche de brilho
os meus olhos escuros


à tarde, o sol
cai mansamente
atrás da montanha


as flores que murcham
falam mais de amor
do que mil beijos

Todo dia














Tudo é tão simples
Basta soltar a alma
Juntar todos os pontos
Fechar a porta por dentro
E ficar livre do lado de fora.

Combinar várias cores
Caminhar nas manhãs claras
Plantar quaresmeiras no jardim
Tudo é tão simples, muito simples
Mas o que mais me dar prazer
É escrever uma poesia todo dia.

17 de fevereiro de 2010

de onde vem!

ao violeiro e cantador Gustavo Guimarães



de onde vem o teu canto, vaqueiro?
da poeira da estrada!
ou do clarão da lua cheia!

de onde vem o teu canto, vaqueiro?
da secura do rio!
ou do olhar triste das gentes!

de onde vem o teu canto, vaqueiro?
da solidão do gado no pasto!
ou do seu próprio coração!

Afinal, de onde vem, vaqueiro,
estas lindas canções?

O resto deixei para atrás


As melhores coisas da vida
Estavam nos teus olhos
A claridade da lua
O brilho do sol
O perfume das flores
O cheiro de comida.

Os melhores prazeres do mundo
Estavam guardados no teu colo
Água fresca, fruta madura;
Céu azul, manhãs claras;
Luz acesa, beijo molhado.

O resto deixei para atrás
Já sou feliz com que tenho.

8 de fevereiro de 2010

haicais

meus desejos noturnos
escondem prazeres
e noites mal dormidas

caqui maduro
enche a minha boca
de saliva e sabores


um forno a lenha
polvilham saudades
da minha avó materna

5 de fevereiro de 2010

Outras coisas















Poema não tem cor
nem sabor
poema é outra coisa.

Poema não tem cheiro
nem paladar
poema é só um meio
de dizer todas as outras coisas.

Toda parte















Maior que a vontade
é a fé que vem
do espírito
e está em toda parte.

4 de fevereiro de 2010

Palavras e vida

corpos cansados –
camas desfeitas.

lua cheia –
amada distante.

alma aberta –
ideias imprecisas.

as palavras andam
por estradas nebulosas
e a vida procura o sol

Para que servem os pássaros

















No outono,
quando as árvores
perdem todas as folhas
e ficam nuas.

Os pássaros, à tarde,
em bando, pousam
nos ramos parecendo
folhas tenras ao vento.

1 de fevereiro de 2010

A narrativa

Para o Carlos de Brito e Mello



A passagem tensa é um entroncamento
entre a morte de cada dia
(que atravessa as cidades)
e o cair da noite (ainda que tardia)
nas terras montanhosas das Gerais.

O narrador lembra de suas mortes
e os corpos como véus da noite
que entrelaçam os topônimos,
os restos e os significados.
E termina a narrativa
como uma memória coletiva.

Os mortos são metáforas
das crenças e descrenças
de um povo perdido
na curva de um tempo indefinido.