31 de outubro de 2011

haicai

a arisca rola-turca
balança o galho seco
quando pousa na árvore

29 de outubro de 2011

haicai

nas tardes quentes
as cigarras invadem
as árvores do condomínio

28 de outubro de 2011

A escola


"Lembrar das coisas passadas não necessariamente é
lembrar das coisas como se passaram..." Marcel Proust


No trajeto
Do Grupo Escolar
Maria Guilhermina Pena
Até a minha casa amarela,
na esquina da rua dos Correios,
Aprendi o essencial:
Falar baixo,
Acalmar a alma
E sonhar alto.

27 de outubro de 2011

só o poema


só o poema
resiste ao tempo;
a noite e as estrelas não!

só o poema
faz pequena pausa no infinito
com suas palavras nuas.

só o poema
sabe o peso da memória
e o gosto das lágrimas.

só o poema
entende a frieza das pedras
e a fragilidade do silêncio.

só o poema
é capaz de guardar
o segredo da semente
e o desejo do coração.

só o poema
mostra com clareza
os vestígios da paixão.

25 de outubro de 2011

Sempre de longe

Tudo nesta vida
Tem um fim.

As estrelas
Vão brilhar
Sempre no céu.
A lua cheia
Vai continuar
Espiando a terra
Sempre de longe,
De muito longe.

Só quem ama
De verdade
Gosta de ficar perto,
bem perto.

A direção

Nem sempre
A vida é feita
Só de ternura.

Sou do tempo
Em que a palmatória
Ardia e doía.

Mas era direcionar
A nossa vida no deserto
Da rebeldia
E plantar a semente boa
Em terra fértil.

22 de outubro de 2011

Um grito quase canção


O grito do boiadeiro
Ecoando atrás do morro
Ficou profundamente guardado
Dentro do meu coração
Como um sofrido lamento
E uma comprida canção.

haicai

é inútil varrer
debaixo das castanheiras;
outras folhas, vão cair!

21 de outubro de 2011

haicai

das areias da praia,
o barco à vela
parece que flutua

18 de outubro de 2011

asas


minha avó cobria
os espelhos quando vinha as tempestades.

e eu corria pra janela
pra ver os raios rasgarem o céu
e os ventos balançarem as árvores.

eu morava numa casa de esquina,
sem muro, sem cercas e sem grades;
tinha um par de asas,
pouco medo e muita liberdade.

14 de outubro de 2011

As vozes do rio













































o rio em silêncio
sem partitura e sem ternura
qual semente jogada na terra
sabe que a vida continua longa
apesar do seu caminho de pedras
e das obras das mãos humanas
assolarem o seu leito de areia.

o rio que já foi doce
hoje desce a passos largos
feito mistério não revelado
entre frestas de sol e folhas mortas
sem as asas dos pássaros azuis
e a silhueta dos rastros dos peixes vivos.

o rio que já foi caminho curto
dos índios e dos escravos
hoje de suas águas escuras e poluídas
surgem vozes agudas e tristes
e de suas cachoeiras exalam solidão
de nuvens cinzas e pétalas em pranto
até o seu encontro com o mar.

haicais

muitas folhas no chão!
Tem alguma castanheira
plantada bem perto

na quadra, as árvores
fazem as sombras;
na rua, derrubam os postes

a igreja do bairro
tem o teto de vidro –
o sol acompanha a missa

13 de outubro de 2011

Vide bula


Conservar em lugar fresco
Sem incidência de claridade.

Para os dias claros
Caminhadas longas
E olhos bem abertos.
Não há contra indicação.
Ninguém morre na véspera.

Tudo tem seu tempo
E a sua validade.
A raiva é apenas espumas
De um mar misterioso e revolto.

Só o amor deixa marcas
E cura todas as enfermidades
Não tem efeito colateral
Nem emocional se digerido
Com cautela e na dosagem certa.

10 de outubro de 2011

haicais

as folhas da castanheira
no outono dão sombras
e no inverno, trabalho!

logo bem cedinho
o sabiá-laranjeira anuncia
um dia ensolarado
a serra do rola-moça
espia a cidade
crescer verticalmente

6 de outubro de 2011

Lei da verdade

A Câmara dos Deputados cria a Comissão da Verdade, que pretende examinar
as violações de direitos humanos praticadas entre 18 de setembro de 1946 e
5 de outubro de 1988, e "efetivar o direito à memória e à verdade histórica e
promover a reconciliação nacional".

meu pai bebia,
minha mãe, cozinhava;
e, meus irmãos mais velhos,
tomavam conta do cartório.

eu jogava bola no campinho,
perto da estação velha,
e, enquanto isso, nos nos calabouços
da didatura militar
os homens bem e as mulheres valorosas
davam suas liberdades e seus silêncios
para que o povo brasileiro
tivesse vez e voz.