31 de julho de 2009

Doors Down

ao belo horizonte que ainda existe nesta cidade


O espaço geométrico
Desta cidade
Começa na Serra
Do Rola Moça
Até alcançar
O perímetro urbano
Que se entrelaçam
Praças, ruas, vielas
Esquinas, asfalto e favelas.

Hoje a cidade
Não cabe em si mesma
Virou uma casa
Sem portas e sem janelas.

A dúvida

Guardo na gaveta
uma carta de amor
e uma jóia de família.

Em tempos difíceis
o que devo fazer?
vender a jóia
ou reler a carta de amor?

28 de julho de 2009

Trânsito


O carro
No trânsito
Precisa de avenidas,
Ruas, semáforos
E agora o tal de gps
Para chegar ao destino.

Ah, o amor não!
É só cruzar os olhares.

Sublime













Amor pressionado
é igual carro
fora da estrada
não chega a lugar nenhum.

Não rompe
as madrugadas frias
nem resiste
aos dias muito claros.

O amor é apenas
sublime.


27 de julho de 2009

O começo











Acho que o amor
Começa no bagaço da cana
Sai das entranhas da terra
Pra sentir o orvalho, a chuva
E crescer com o calor do sol
Pra só depois, então, torna-se doçura.


Haicais

que dias felizes
quando viajo de trem
entre vales e montanhas

a lagartixa prefere
perder o rabo
do que morrer de fome

25 de julho de 2009

Whit You, Tonight

No amor tudo é tátil
No amor tudo é frágil.

A paixão é a pele na pele
A paixão é o tato nos sentidos.

Você e eu dançando no ar
Eu e você num único eco.

Vibram as cordas do violão
Acelerando o passado e o presente.

Haicais


as borboletas coloridas
pousam suavemente
nas hastes das flores

a doçura da flor
orienta a direção
das asas da abelha

todos os dias
o pardal mudo
visita o quintal

23 de julho de 2009

Haicais











os seus olhos negros
brilham mais
que as estrelas do céu













a alma da mulher
parece flor do campo
só desabrocha com calma










melhor remédio
para uma desilusão
é um outro dia inteiro

22 de julho de 2009

A semeadura

A vida é como o tempo
Há um tempo para as flores
E há um tempo para os frutos.
Algumas flores caem no chão.
Umas murcham, outras os ventos levam.
Poucas, muito poucas, se apegam ao tronco.
Essas são as que dão os frutos
Que sustentam os pássaros, os insetos
E não permitem que o mundo morra de fome.

Não é a dureza ou a benevolência
De uns poucos homens bem intencionados
Que vai aumentar ou diminuir a esperança
Mas a semeadura dos grãos sobre a terra.

17 de julho de 2009

Um montão de silêncio

Requiem aeternam ('repouso eterno') para Rita Pulcéria Pinto

















Minha sogra já não está aqui,

entre nós.
Não levou nada daqui.
Só muitos anos de vida
e um semblante de paz.
Mas deixou em minha casa espalhados
um baú de guardados,
muitos panos de prato,
vários vasilhames esmaltados,
um cavaquinho sem cordas,
um caixote de roupas limpas
e um montão de silêncio
que não cabe na sala, na cozinha
e, muito menos, no meu coração.

16 de julho de 2009

Jamais...

In memorium à Magali Guerra de Paula, minha cunhada

“... jamais poderemos esquecê-la”.
todas as vezes que alguém
da minha família vai embora
é mais uma palavra sem sentido
nos meus versos e nos meus poemas.
todas as vezes que uma estrela
se apaga no céu da minha existência
o meu mundo fica um pouco mais escuro.
todas as vezes que um paralepipedo
da rua da minha cidade se perde
é mais um buraco que aparece.
todas as vezes que alguém se despede
perco as minhas asas e a minha liberdade.


“... jamais poderemos esquecê-la”.
mesmo sabendo que ela foi para lugares
onde todos são muito mais felizes
e não precisam de agasalhos nem guarda-chuvas.

15 de julho de 2009

As borboletas




















Que vida curta

Têm as borboletas
São quase quinzenais
E morrem ainda coloridas
Têm o tempo muito curto, sim!
Mas sempre proveitoso
Porque não pensam como nós
Seres pretensiosos de imortalidade
Entretanto, passamos quase todo tempo
Cheio de dias vazios e descoloridos.

E também morremos...
Como as borboletas.

13 de julho de 2009

As lembranças













À sombra de uma
enorme mangueira
coberta de flores
vi minha vida
florescer!

Ao redor das fogueiras
nas festas juninas
recheadas de quitutes
vi meu mundo
aparecer!

Nas rodas de ciranda,
nos contos de fadas
e nas histórias de assombrações
vi meu medo
desaparecer!

Hoje só uma fração
de segundo me separa
dessas lembranças.

Os sinos

















Os sinos batiam
no alto da igreja.
A cidade acordava.
Não era festa.
Não era enterro.
Era apenas a ladainha
do Salve Rainha.

Era assim a vida da cidade.
Não era longa nem breve.
Apenas as contas de cristal
de um comprido Rosário.

O sonho, tão raro!
O amor, tão certo!
O paraíso, apesar de claro
era coisa para a outra vida.

Era difícil continuar caminhando
por aquelas ruas, praças
e vielas de paralepipedos
onde o profanos e o divino
se tocavam intimamente.
Tudo era apenas as batidas
dos antigos sinos da igreja.

Os sinos batiam novamente
A cidade dormia
E a escuridão invadia...
... a cidade ... o mundo.

9 de julho de 2009

haicais















o espelho reflete
o rosto cansado
e as marcas do tempo

















o silêncio guarda sons
que a noite escura
escondeu a vida toda






















as tardes da minha infância
guardam as cigarras
que cantam até morrer

6 de julho de 2009

A noite

A noite tem seus fantasmas
para assombrar os homens
que não acreditam em nada.

A noite tem seus mistérios
para esconder dos homens
o verdadeiro sentido da vida.

A noite tem seus hóspedes
para enganar os homens
que só acreditam no prazer.

Respiração
















O peixinho do aquário

Do consultório médico
Não precisa
De ar para respirar
Só precisa de água limpa.

Eu também não preciso de ar
Só preciso de amor
Para pensar em respirar.

3 de julho de 2009

haicai

1 de julho de 2009

As alianças

Dedicado à minha amiga, Larrisa de Freitas Faria.


Com meu alforje de caminheiro, avistei um golfo que mais parecia um deserto alagado. Tudo estava tão claro que não precisava das palavras para decifrar as imagens que apareciam e desapareciam ao meu redor.
No limiar tênue que separa o dia da noite, vi uma moça com os cabelos que pareciam ondas do mar, a sua boca vermelha como gomos de romã madura, os seus olhos brilhantes como as estrelas do céu, nas suas mãos dois livros abertos e em cada dedo anelar uma aliança.
E aos seus pés havia uma inscrição: o amor não começa nem termina aqui na terra, a solidão sim.