29 de julho de 2010

As suas mãos

à Rivadávia Souza e Pinho

o seu nome é de tal
modo tão doce,
Rivadávia
que a partir de hoje
vou lhe chamar apenas
riva.

Há mãos que tecem
solidão
as suas mais nobres,
acariciam o filho,
como aquela
mãe santa e
imaculada.

riva, você é doce
como uma fruta
colhida fora do tempo.
Você é amiga
como a madrugada
é do dia.

As suas mãos tecem
afagos e abrandam
o vento.
Rivadávia, você é só riva.

A lua


















a lua sempre foi
na minha infância
uma fiel amiga.

ao por do sol,
os sinos da igreja Matriz
tocavam suavemente
anunciando a hora
da Ave Maria.

O canto gregoriano
que saia dos alto-falantes
da torre da igreja
envolvia a tarde
da minha cidade
de uma áurea mística
e a noite cobria
mansamente o céu vermelho
de um escuro feito veludo
até surgir a lua majestosa
e exuberante.

a lua amiga e companheira
da minha infância feliz
e distante.

26 de julho de 2010

Beija-flor


















o amor deveria ser
um beija-flor
que vem todas tardes
visitar as mesmas flores.

o amor deveria ser
suave como as asas
de um beija-flor
que chega de mansinho.

o amor deveria ser
carinhoso como o beijo
de um beija-flor
que toca onde só tem mel.

o amor deveria ser
um beija-flor
que chega silencioso
e vai embora caladinho.

22 de julho de 2010

Muito longe

vinde de longe,
muito mais longe eu vou
sei que o que toco
aqui na terra
aqui na terra vai ficar:
os metais, os rios,
os mares e as montanhas.

dos meus dias
não posso subtrair
nem acrescentar
porque a vida
é apenas um movimento
não é igual ao rio
que constantemente
está seguindo seu leito
até chegar ao mar.

o meu leito não é
aqui na terra.
eu sou de longe
e vou para mais longe.

21 de julho de 2010

A caixa de pandora

quando jovem
queria ser carteiro
para entregar
todas as cartas
que Pessoa escreveu
quando morava
na Inglaterra.

e quem sabe,
um dia, de muita sorte,
abrir a caixa de pandora
e deixar sair todos os males
e guardar só o bem e a beleza.

o rio

o vento traz
o barulho das águas
do riacho que procura
o rio.

e o rio mansamente
cria rodamoinhos
no seu leito
entre as margens
para chegar
bem devagarinho
ao mar.

20 de julho de 2010

Na madrugada


há nada
de novo

nenhum verso,

nada!

somente
a minha solidão
e o meu grito
em silêncio
no quarto escuro
escutando
a briga do casal,
no meio da madrugada,
no apartamento
vizinho.

não há nada
de novo,
nada!

19 de julho de 2010

É tão bom

é tão bom viver
quando a gente
acha o tom certo
e não precisa
mais mudar.

é tão bom andar
como manda o coração
que a gente
nem precisa
procurar a direção.

é tão bom escolher
os amigos só por
afinidade e simpatia
e não ter obrigação
de procurar todo dia
só esperar o coração
da gente mandar.

15 de julho de 2010

Amor é respiração

o que eu fiz de mais puro
não foi rabiscar uma estrela,
ou desenhar um pássaro voando,
ou esculpir na madeira uma flor,
ou escrever um lindo poema de amor.
tudo isso posso fazer com as mãos.

o que eu fiz de mais puro
foi criar os meus lindos filhos
porque eu preciso todos os dias
de minha vida amá-los com o coração.

até o impossível a minha mão traça
mas amor não, amor é respiração.

14 de julho de 2010

haicais

o pássaro joão-de-barro
só precisa de galhos e beiral
para construir seu ninho

o capim dourado
é uma sempre viva
que se espalha pelas veredas

a quaresmeira roxa
no cerrado brasileiro
cresce pouco e floresce muito

o ipê rosa no cerrado
floresce mais cedo.
No sul, demora mais

a forma ovalada
da flor do hibiscus
floresce no ano inteiro

13 de julho de 2010

haicais

a borboleta sai do casulo
para pousar levemente
suas asas visíveis no vento

as borboletas voam pelo jardim
procurando as flores viçosas
para saborear o néctar

os pássaros soltos no campo
procuram no céu azul
as asas livres dos ventos

o beija-flor parece
que tem mil asas
fica inerte no ar

12 de julho de 2010

Infância


quando criança
o que me acalentava
era o grito do vaqueiro
na curva da estrada.

as tardes madrigais
o gado no pasto
e as pipas coloridas no céu.

quantos sonhos
meus olhos enxergaram
na minha infância.

4 de julho de 2010

A bicicleta

Esta foto é do site do meu amigo Guilherme (www.guilhermebergamini.com)

os meus pés ainda
cheiram os lírios que eu pisava
na minha infância.

ainda tenho os braços molhados
pelas águas do rio
que banha as montanhas
da minha terra.

ainda me recordo dos caminhos
que as borboletas percorriam
pelo jardim da Praça da Matriz.

ainda sinto o vento
bater no meu rosto
quando descia o morro
pedalando a minha bicicleta
e deixava para trás
a poeira da terra vermelha.

os meus pulmões ainda
respiram o ar puro daqueles campos
e as lembranças da infância
que o tempo não apaga
nem a distância consome
o cheiro de lírios que guardo
na minha alma e no meu coração.