27 de maio de 2010

quase-haicai

quero nascer lagarta,
metamorfosear-me em borboleta
para colorir meus voos matinais

quase-haicai

quem viaja de trem de ferro
inventa paisagem no céu
só para passear nas nuvens

haicai

ela é uma linda bailarina;
minha filha, quando rodopia
e põe as sapatilhas douradas.

26 de maio de 2010

O prazer


minha mãe fazia
figos em caldas.
esse doce exige
tempo e paciência
um traz a cor;
a outra, a doçura.

é preciso todos os dias
levar ao fogo
sempre brando
e constante.

aprendi com minha mãe
que o prazer parece doce de figo
demora sim para aflorar,
mas compensa pelo sabor.

25 de maio de 2010

Hoje tudo é breve



o tempo
na minha vida
já foi medido
e controlado
pelo relógio
da torre da igreja
da minha cidade.

hoje, tento
ser simples
e breve
como a minha própria
vida.

18 de maio de 2010

Quem sabe... um dia...

Para a Lídia Rabelo

















quem sabe ... um dia ...
erguerei todas as pontes
que separam as margens
desse rio de águas claras.

quem sabe... um dia...
irei à fonte onde brota
a certeza, a luz, a plenitude
que o mundo transformou
em promessas não cumpridas.

quem sabe... um dia...
encontrarei o esplendor da manhã
na completude de um dia ensolarado.

quem sabe... um dia...
irei novamente num voo pleno
ficar defronte daquela casa
onde a dama da noite perfumava
a esquina, a rua e o mundo.

quem sabe.. um dia...
verei minha amiga Lídia
naquele halo brilhante da lua
invadindo a noite prateada
e adentrando a madrugada.

quem sabe... um dia...

14 de maio de 2010

A saudade não!



a casa amarela
dos meus pais
continua lá;
o sino da igreja não toca mais;
mas continua lá, mudo
e enferrujado.

o tempo envelhece;
a saudade não,
só distancia as lembranças.

as janelas de madeira
hoje, são grades de ferro.

e o que eu sinto
continua guardado
nos cômodos da casa amarela.

13 de maio de 2010

Buracos

A mina "Gongo Soco" da Vale S.A. (antiga Companhia Vale do Rio Doce) no Município de Santa Bárbara (MG)


grama por grama
oitava por oitava
quilate por quilate.

foi o que as Geraes
pagou por suas riquezas
aos vorazes colonizadores.

hoje, muitos séculos depois,
Minas continua pagando
com a mesma moeda.

serra por serra
morro por morro
vale por vale.

do Morro do Gongo Soco surge
um enorme buraco de poeira.
do Pico do Itabito aparece
um espantalho despido.
e do Pico do Cauê,
o poeta itabirano
disse que restou
apenas tristeza e pó.

11 de maio de 2010

haicais














pássaros no fio
e chuva fina no céu
parece uma linda pintura.













o reflexo do sol
na vidraça da sala
imita caminho de luz.














as corredeiras do rio
levam os botes coloridos
para os bancos de areia.















os trilhos do trem
debaixo do sol quente
parecem fios de luz.

7 de maio de 2010

sonho apenas
























eu sei que fui
forjado antes do começo
por isso sou apenas asas
não pássaros,
meus voos são imaginários,
meus ideários
são delírios noturnos;
sonho todas as noites
que estou voando, sonho apenas.

guardo no coração
a certeza de que entre
a flecha e o arco
sou o hiato.

entre a estrada
e o destino
sou a poeira.

entre o rio doce
e o mar salgado
sou a correnteza.

6 de maio de 2010

Voz

à Adriana Godoy (blogueira e mãe do Rafael desenhista)


a dona do Voz,
entre versos e verbos,
entoa cantigas ao vento
em seus olhos o abandono
se transforma em abrigo
em sua boca a palavra suave
se converte em labaredas
em seus lábios as sombras
acolhem a luz e o calor.

a sua voz não é aguda
nem rouca nem úmida
apenas uma linda canção.