25 de abril de 2014

Eteceterááá

eterna homenagem “in memorium” aos doidos que invadiram a minha infância, minhas fantasias e as ruas da cidade



na minha cidade
morava um doido
chamado clemente
que gritava rua afora:
“quando o homem anda,
o mundo descansa”;
e, eu não entendia nada,
assim como não sabia
o que era eteceterááá
aprendi essa linda expressão francesa
e muitas outras coisas.

23 de abril de 2014

Bons tempos

nas tardes quentes de verão,
colhia frutas maduras no pé,
na fazenda da dona eulina;
à noite, à beira do rio doce,
contava as estrelas do céu
e, nas manhãs, bem cedinho,
pegava a bicicleta “monarc”
para comprar pão na padaria
do seu oscar e da dona marta.

tudo era tão certo e contado,
como dois mais dois são cinco
de uma velha canção da época,
nada saía dos trilhos ou da trilha
que levava para a rua da pedra,
nos jardins da praça da matriz
desfilavam as moças e os rapazes
à procura de seus pares e amores,
parecia sempre fácil e bem simples.

Hoje, relembrando esses bons tempos,
sou apenas uma pausa entre a canção
e o silêncio que antecede a espera
de um momento e de uma enorme saudade.

19 de abril de 2014

“Outono do Patriarca”


à Gabriel García Márquez

quando ainda não sabia das palavras
e não tinha asas para imaginar
passei cem anos ignoto
apreciando noites escuras,
estrelas distantes,
manhãs silenciosas
e mares agitados

aprendi com esse escritor
não importa o que aconteceu,
importa sim, o que você lembra e como lembra!
por isso, nunca chorei porque acabou
alegro-me por ter acontecido
mesmo quando os cães têm olhos azuis

14 de abril de 2014

às vezes

às vezes, acordo de madruga
com as mãos cheias de palavras
e não sei o que fazer;
algumas, o vento leva;
outras, a escuridão apaga
e outras, vem a claridade e faço um poema

12 de abril de 2014

sempre

o poema sempre me chega assim, pronto!
limpo e claro, como as manhãs de outono,
não precisa de cor nem brilho.

1 de abril de 2014

Palavras amigas e doces


in memorium à dona Maria Bichara

Todos nós fomos feitos
da mesma matéria
que é o barro
não podemos ter ferro
porque sobeja dureza
não podemos ter pedra
porque sobressai aspereza
quem conviveu com essa mulher
sabe como eu sei
Deus e sua infinta bondade
fez essa mulher de substâncias
que só se encontram no céu
porque das suas mãos macias
apareciam deliciosas doçuras
da sua boca carnuda
saiam palavras amigas e doces
dos seus olhos quase claros
jorravam brilho e afabilidades
ainda quis as circunstâncias
e as dificuldades impostas pela vida
que ela fosse doceira de mão cheia
e salgueira de dar água na boca

hoje, tantos anos depois,
o doce na minha boca acabou
mas ficou para sempre sua ternura
e uma pitada de sal que é a eterna saudade