29 de dezembro de 2010

A posse


lá fora
a chuva fina
cobre
a capital
no compasso
de espera
da posse
da Dilma.

cá dentro
a expectativa
do momento
histórico:
a mão forte
de uma mulher
governar o país.

28 de dezembro de 2010

haicais

as borboletas na estrada
não vão muito longe
param no pára-brisa do carro

é no outono que a horta
se enfeita de flores amarelas
e compridos quiabos

quando uma folha cai
parece uma bailarina
flutuando na ponta dos pés

26 de dezembro de 2010

Sem pressa


O mar fica muito longe
Mas eu sou os ventos
Que sopram toda manhã.

Sou os pássaros que revoam
Quando os sinos tocam
Solenemente na torre da igreja.

Sou as abelhas que voam
Apressadas quando percebem
Que a primavera está próxima.

Sou as águas cristalinas da serra
Que descem tranquilamente
Pelas encostas dos morros.

Sou o brilho do sol que se desdobra
Em cores vivas para que o dia nasça
Naturalmente como um milagre.

O mar fica longe, eu sei!
Mas não preciso correr
Para chegar lá.

22 de dezembro de 2010

Natal


"Natal não são os enfeites, não é a neve. Não é a árvore, nem a chaminé. O Natal é o calor que volta ao coração das pessoas,
a generosidade de compartilhá-la com outros e
a esperança de seguir adiante."


FELIZ NATAL!


a fragilidade

escrever poesia
é tão frágil
quanto uma folha
ao vento
um porto sem naus,
um arco sem flecha,
um olhar sem desejo,
e um caminho sem destino.

o mapa é a memória,
o sonho, as margens e os labirintos.

20 de dezembro de 2010

Eclipse

acontecerá amanhã,
no dia do solstício,
no nosso hemisfério
o fenômeno raro,
um corpo celeste
penetrará em outro corpo
e a terra observará tudo
de muito longe –
o eclipse lunar.

no auge do eclipse,
a lua de prata,
ficará avermelhada
e não será dos enamorados
nem dos amantes
será dos que acordarem
de madrugada.

19 de dezembro de 2010

o trem de ferro

dedicado à Estrada de Ferro Vitória a Minas (propriedade da Vale S.A.)









quanto de sal trouxe
esse trem que vem do mar?

quanto de brisa doce levou
esse trem para as águas salgadas?

quantos sonhos se realizaram
dentro desse trem solitário?

quantos desejos foram revelados
dentro desse trem vagaroso?

quantas distâncias esse trem
já percorreu entre montanhas e mar?

todas manhãs esse trem
acorda a capital das alterosas
sem pressa como uma serpente
chega à capital do mar
com as estrelas brilhando no céu.

A espera

À minha filha Marjorie Veríssimo








Quando o sol se levanta
Penso no amanhã que surge
E começa tudo de novo.
Só que tudo diferente.
É assim que me diz o coração
Toda hora, mas eu não vejo a hora
De matar a saudade
Que aperta o peito
Sufoca o coração
E lacrimeja os olhos.

Enquanto esse dia não chega
Olho as estrelas
Pensando nos sonhos.

Navego o infinito
Esperando o avião decolar
Para me levar à capital do país
Onde minha filha me espera.

18 de dezembro de 2010

precipício

Gongo Soco é uma mina de minério de ferro localizada
no município de Barão de Cocais (MG). Atualmente é explorada pela Vale



aqui em Minas
é assim
grandes horizontes
nenhum mar.

de quando em quando
um precipício
bem próximo.

e, às vezes,
de vez em quando
uma pedra
no caminho
e bem no meio
do caminho.

12 de dezembro de 2010

O trem

há algures,
perdido na penumbra
do tempo,
o trem de ferro partiu
deixando as cidades
do interior de Minas
sem partidas, sem bússola
e sem destinos.

ficaram os trilhos enferrujados,
as estações abandonadas
e um horizonte perdido
entre curvas, pontes e túneis.

o que era uma bela viagem
virou um descaso, uma miragem.

9 de dezembro de 2010

quasi-haicais



8 de dezembro de 2010

descanso eterno

a casa abandonada
dos meus pais me espera
como o mar espera a lua;
o pássaro, a flor;
as nuvens, a chuva.

assim também eu espero,
um dia sem sol,
na morada eterna
sem paredes descascadas
e sem teto de telha colonial
descansar o meu corpo.

7 de dezembro de 2010

as cigarras

a chuva chega
lentamente
e com ela vem
o verão.

as cigarras agarradas,
nos troncos das árvores,
cantam desesperadamente
como se a vida dependesse
só delas e de mais ninguém.

as mobílias

há as estações do ano
e as da vida.

hoje caminho
por desertos
entre as margens
de um rio
que já secou.

as mobílias
da casa que morei
foram comídas
pelos cupins.

a esquina da rua
de terra que eu brincava
virou um enorme deserto
que guarda o silêncio
de pedras semiprecisosas.

e na gaveta ficou
apenas as manchetes
de um jornal
sem edição
e as lembranças
de uma enorme janela
feita de madeira de lei.

5 de dezembro de 2010

uma breve luz

hoje o dia amanheceu
sem nenhuma ruga
só uma breve luz
que surgiu lentamente
num dos cantos do mundo.

as brancas nuvens
que se formam no céu
parecem asas livres de pássaros.

a claridade vem mansamente
nos pés das sombras de cetins,
nos olhos da mira das águias
e nas mãos suaves das estrelas.

cheio de esperança
escrevo este poema
com o brilho do sol
que fugiu do céu.

1 de dezembro de 2010

A procura

Não procuro
a cidade Linderhof
na Alemanha.
Nem preciso
fazer pesquisa.

A cidade
que procuro
está aqui mesmo
neste continente
neste país
neste estado.

No vale
do rio de água doce.

Não preciso
de estradas ou mapas
preciso ter coragem
para seguir a memória.

Basta isso!
Seguir a memória!

soneto V

Solidão não paga conta,
desespero não abre portas,
sensatez não leva a lugar nenhum.
Sacrifício não abstém desejos.

O supérfluo não preenche vazios,
o sono não encurta noites escuras.
Vestes brancas não apagam desejos
nem perfumes caros não retêm momentos.

Desfrutar da companhia de uma mulher
Vale mais que uma taça cheia de vinho
ou uma noite de um prazer qualquer.


Não deixe nada para atrás
Faça todas as suas vontades
Sábio não é quem sabe, mas faz.