lá fora
a chuva fina
cobre
a capital
no compasso
de espera
da posse
da Dilma.
cá dentro
a expectativa
do momento
histórico:
a mão forte
de uma mulher
governar o país.
Viver é fácil. Conviver que é difícil.
lá fora
cá dentro
a expectativa
do momento
histórico:
a mão forte
de uma mulher
governar o país.
O mar fica muito longe
Mas eu sou os ventos
Que sopram toda manhã.
Sou os pássaros que revoam
Quando os sinos tocam
Solenemente na torre da igreja.
Sou as abelhas que voam
Apressadas quando percebem
Que a primavera está próxima.
Sou as águas cristalinas da serra
Que descem tranquilamente
Pelas encostas dos morros.
Sou o brilho do sol que se desdobra
Em cores vivas para que o dia nasça
Naturalmente como um milagre.
O mar fica longe, eu sei!
Mas não preciso correr
Para chegar lá.
quanto de sal trouxe
esse trem que vem do mar?
quanto de brisa doce levou
esse trem para as águas salgadas?
quantos sonhos se realizaram
dentro desse trem solitário?
quantos desejos foram revelados
dentro desse trem vagaroso?
quantas distâncias esse trem
já percorreu entre montanhas e mar?
todas manhãs esse trem
acorda a capital das alterosas
sem pressa como uma serpente
chega à capital do mar
com as estrelas brilhando no céu.
À minha filha Marjorie Veríssimo
Quando o sol se levanta
Penso no amanhã que surge
E começa tudo de novo.
Só que tudo diferente.
É assim que me diz o coração
Toda hora, mas eu não vejo a hora
De matar a saudade
Que aperta o peito
Sufoca o coração
E lacrimeja os olhos.
Enquanto esse dia não chega
Olho as estrelas
Pensando nos sonhos.
Navego o infinito
Esperando o avião decolar
Para me levar à capital do país
Onde minha filha me espera.
há algures,
perdido na penumbra
do tempo,
o trem de ferro partiu
deixando as cidades
do interior de Minas
sem partidas, sem bússola
e sem destinos.
ficaram os trilhos enferrujados,
as estações abandonadas
e um horizonte perdido
entre curvas, pontes e túneis.
o que era uma bela viagem
virou um descaso, uma miragem.
há as estações do ano
e as da vida.
hoje caminho
por desertos
entre as margens
de um rio
que já secou.
as mobílias
da casa que morei
foram comídas
pelos cupins.
a esquina da rua
de terra que eu brincava
virou um enorme deserto
que guarda o silêncio
de pedras semiprecisosas.
e na gaveta ficou
apenas as manchetes
de um jornal
sem edição
e as lembranças
de uma enorme janela
feita de madeira de lei.
hoje o dia amanheceu
sem nenhuma ruga
só uma breve luz
que surgiu lentamente
num dos cantos do mundo.
as brancas nuvens
que se formam no céu
parecem asas livres de pássaros.
a claridade vem mansamente
nos pés das sombras de cetins,
nos olhos da mira das águias
e nas mãos suaves das estrelas.
cheio de esperança
escrevo este poema
com o brilho do sol
que fugiu do céu.
A cidade
que procuro
está aqui mesmo
neste continente
neste país
neste estado.
No vale
do rio de água doce.
Não preciso
de estradas ou mapas
preciso ter coragem
para seguir a memória.
Basta isso!
Seguir a memória!
Solidão não paga conta,
desespero não abre portas,
sensatez não leva a lugar nenhum.
Sacrifício não abstém desejos.
O supérfluo não preenche vazios,
o sono não encurta noites escuras.
Vestes brancas não apagam desejos
nem perfumes caros não retêm momentos.
Desfrutar da companhia de uma mulher
Vale mais que uma taça cheia de vinho
ou uma noite de um prazer qualquer.