29 de maio de 2009

Grudadas na alma

Quando o rio
Não tinha a ponte
O Zé Barqueiro
Com a sua calma
E seu canto oníssono
Ligava a cidade
Ao norte
E ao mundo
Que girava
Sobre quatro rodas.

O rio dava nuances
Das estações
E a lua refletida
No espelho das suas águas
Cristalinas guardam as lembranças
Que não passam nunca
Pelo vagar do tempo
Mas que ficam sempre
Grudadas na alma
E no coração.

26 de maio de 2009

Os sonhadores

Esses sonhadores, ousados aventureiros, resgataram-me em alto mar dando o barco, a vela e, os ventos. (Langlois, Belmondo, Godard, Bertolucci, Malraux)














Era noite
Aquele 28 de maio
Do ano de 1968
Quando fecharam
A cinemateca
Da cidade luz.

Não foram ao vento
E em vão lançadas as pedras
Ao resquício da intolerância
De gente bestial e bruta
Tomando o poder pelas mãos
A fumaça das bombas
Acordou os jovens
Do velho mundo
E despertou os homens de bem
do mundo inteiro.

Aquela noite foi tão longa
Que os intelectuais
Pararam de escrever
E começaram a sonhar
Com um amanhecer
Cheio de imagens
De cenas da sétima arte
E dos tempos modernos.

25 de maio de 2009

O aniversário

Poema dedicado ao meu filho, Ivan Luiz Pinto de Paula, escrito no dia 25/1/1988

Não pude ligar
Estava distante e afônico.
Mas o que é a distância
Quando é o sentimento do amor
Que pulsa dentro do nosso coração.
A nossa relação é forte, filho!
É profunda como as estações do ano
O outono e a primavera
O fruto e a flor
O meu amor não é apenas um sentimento
É muito mais – é alimento.

Não pude ligar
Estava distante e afônico.
Mas, filho, pensei em ti
Como eu penso em ti
Todos os dias e todas as noites
E hoje que é o teu aniversário
Eu me senti muito mais feliz
Porque tu és o outono
E eu sou a primavera
Tu és o fruto
E eu sou a flor.

22 de maio de 2009

O pão da vida

















A ansiedade no coração
faz sentido na mente
enquanto o tempo passa
nos meus olhos cansados
atiro-me no obscuro
desejo da fama,
ensaio sonhos coloridos
sentado neste mundo real
olhando a maldade
e lidando com as inverdades
que vão dando sentido
a esta farta mesa de misérias
onde mastigo o pão da vida
e bebo o vinho do embriagado.


São Paulo, 18/12/80

21 de maio de 2009

Haicais




19 de maio de 2009

Haicais







18 de maio de 2009

Policromos

Este poema é dedicado à poeta, Márcia Sanchez Luz, que posta a sua poesia no blogue: "O Imaginário" http://poemasdemarciasanchezluz.blogspot.com/


Os seus sonetos
Presos à métrica
E à rima desvendam
A policromia da vida
E da poesia.
Parecem inspirados
Nas escolas mais consagradas
Dos mestres cantadores
E dos menestréis palacianos.

Os seus sonetos
Parecem um jardim
Onde as borboletas douradas
Com suas tênues asas
Pousam em pétalas vermelhas.

Os seus sonetos decassílabos
Parecem inspirados
Em seus ancestrais além-mar.
Quem sabe, Cervantes!
Ou, por que não, Verlaine!

Os seus sonetos
Parecem música
De chuva e de vento
Ao mesmo tempo
E têm as cores
Da noite com a lua prateada.

Os seus sonetos
Guardam lembranças
De manhãs claras
De girassóis ao meio-dia
E de pássaros em cantoria.

Os seus sonetos
Não precisam
Falar de mães zelosas
De amores perdidos
E de desejos proibidos
Para revelar as cores
Da vida, da emoção
E do instante.

15 de maio de 2009




















































13 de maio de 2009

Os homens não aprenderam nada



Este poema é um grito em favor de um rio que foi doce, parceiro e amigo dos ribeirinhos. Hoje, um depósito de lixo, de excrementos e resíduos industriais. Até quando, nós amigos e parceiros desse rio vamos continuar vendo descaso da população ribeirinha e das autoridades, até quando? Até a Companhia Vale do Rio Doce abandonou o rio que a enriqueceu. Agora é só Vale. Vista da cidade de Conselheiro Pena, das margens do rio Doce, ao fundo a serra do Padre Ângelo (foto: Gustavo Sturzeneckder, postada no site: www.panoramio.com/photo/2978033).




Hoje o rio Doce é apenas passagem
Entre a nascente e o mar.
É um estreito rumo que segue em frente.
Em um passado nem tão distante
Suas margens faziam tudo frutificar
Nada retinha e nunca foi indiferente
À sede, à beleza e à fome dos homens.

E os homens nada aprenderam do rio
São passageiros ferozes de uma viagem
Sem-fim, sem retorno e sem rumo.
Desmatando a nascente cristalina
E despejando sujeiras no leito.

Hoje o rio Doce é doce só no nome
E na lembrança de velhos barqueiros.

12 de maio de 2009

O despertar




A casa que eu sempre regresso
Não pode ser comprada
Nem vendida.
Quando a deixei
Queria correr o mundo
Queria atravessar os mares
Queria sentir outros ares.

Se eu ainda tivesse tempo
Regressaria para a casa
Que me viu nascer.
E toda manhã iria me banhar
No rio que corta a cidade
E nunca deixaria o meu coração
Despertar do sono profundo dos justos.

Se eu ainda tivesse tempo
Iria cuidar do jardim
Todas tardes ensolaradas
E descansar o resto do dia.

haicai


11 de maio de 2009

haicais







É liga

















O amor
Não é argamassa
Que recompõe
A coluna
Nem soda cáustica
Que decompõe
Corpos sólidos.
Amor
É coisa divina
Que liga
A terra e o céu.

6 de maio de 2009

Revisitada










Olímpia,
O teu nome tem gosto de pitomba
Doces lembranças da fazenda
E amargo de olhar o passado distante.

Olímpia,
As tuas filhas têm a fluidez
Das distâncias não percorridas.
E ainda são polidas como a brisa.

Olímpia,
A tua amizade resiste
Às ferrugens, às ondas
Ao calendário e aos feriados.
Ainda que passe tudo.
Permanece a figura patriarcal.

A mim só cabe pedir perdão
Pelo silêncio e pela inexatidão.

5 de maio de 2009

Existe em nós

"In Fragmentos" são Sementes, de Novalis, é um livro que volto muitas vezes. Leio alguns dos seus poemas como se fossem orações.


Existe em nós
um sentido especial para a poesia,
uma disposição poética.
A poesia é absolutamente pessoal,
e por isso indefinível.
Quem não souber nem sentir
de forma imediata
o que é a poesia,
nunca poderá aprendê-lo.
Poesia é poesia.
Diferente, como a noite do dia,
da arte da fala e da palavra.

Novalis
(in Fragmentos)
Tradução de João Barrento

4 de maio de 2009

Haicais













a abelha vive muito
porque só carrega o que pode
– é o excesso que mata


uma canoa à beira do rio
é mais útil ao viajante
do que suas vestes de cetim


não é força nem o tamanho
que mantém o leão vivo
mas sua paciência e persistência

3 de maio de 2009

Na imaginação


Você é tão bonita
que não sabe nada
do que eu gosto
eu gosto de batata frita
você gosta de biscoito
de água e sal.
eu gosto de noite e lua
você gosta de sol e praia
eu gosto de café, pão e banana
Você gosta de arroz, feijão e suco natural.

Você é tão bonita
que não sabe nada
do que eu aprecio
eu assisto filme de ação
você assiste a sessão da tarde
eu ouço música lenta
você prefere cantiga de roda.

Você é tão bonita
que eu não sei
onde você mora
só sei que você existe
num cantinho
da minha imaginação.

Haicais

quem pode mais
o barulho do mar
ou a rajada de ventos?

a coruja no toco
passa a noite enluarada
na dúvida: vô-num-vô

a tarde veio mansamente
deixando o sol amarelo
de raiva e de solidão