23 de outubro de 2007

haicais













a abelha vive muito
porque só carrega o que pode
– é o excesso que mata


quem só busca as palavras
não encontrará nada
só o coração traz os bens

quem lavra a terra seca
mendigará no verão
e não colherá coisa alguma


o que separa o grão da casca
não é o tamanho do pilão
– a força que é empregada


o telhado que retém o frio
é o mesmo que na tempestade
protege a casa dos ventos


é verdade que a beleza
não põe a mesa
nem a preguiça enche os pratos


não são as asas nem o vento
que levam a abelha ao mel
– o desejo em construir a casa


só os vivos sabem que vão morrer
os mortos não sabem nada
– um cão vivo vale muito mais


o preguiçoso observa o vento
para plantar a semente
o trabalhador a estação propícia


não é a força nem o tamanho
que mantém o leão vivo
– a paciência e a persistência


mais feliz que o pássaro
e todos os homens juntos
é aquele que ainda não nasceu


uma canoa à beira do rio
é mais útil ao viajante
do que as suas vestes de cetim


deixar um vício
não é só trocar de roupa
é também mudar de pele


a lagartixa pra não morrer
come o próprio rabo
porque conhece a sua natureza


nem tudo que tem asas
e voa é pássaro
– cuidado com os morcegos!


os animais não são bichos
bichos são os homens
que matam roubam e fogem

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