18 de novembro de 2008

Já não há o que contar

(“in memorium” à minha avó materna Maria Augusta da Silva”)

Já não há o que contar
Já não há mais grandes novidades
Já não há procissões como antigamente
Já não há canções nem festividades

Aqui tudo é vago e finito
Nada se leva deste mundo
Os caminhos são estreitos
Aqui o sublime é imperfeito

Esta vida daqui é uma ironia
Fazias tantas delícias gostosas
E eras, na verdade, diabética
Fazias tudo por prazer e mania

POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?

Quantas fornadas de novidades!
Quantas tachadas de farinha de fubá!
Quantas rosquinhas doces nos patuás!
Quantas delícias nas providades!

E hoje, relembro as tuas histórias:
Os reprisados casos das comadres
Os censurados atos dos padres
As longas caminhadas à Sobrália

POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?

A vizinha que matou 4 maridos
A labuta dos teus 7 filhos queridos
A Revolução de 30 e as perseguições
E a leva de capados sempre magros

Perdão, mas vou recordar um pouco
Lembra-te daquela casa de quintal
Lembra-te daquele cão malhado claro
Lembra-te daquela noite de temporal

O guarda-roupa velho e quebrado
A antiga imagem de Nossa Senhora
O crucifixo de madeira bem guardado
Os óculos caro para toda hora

Ainda te lembras de Pedra Corrida
Da travessia calma no Rio Doce
Do tacho de cobre cheio de doce
E do lampião no canto da sala

POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?

Sim, onde estás não há um tempo
Sim, vives o agora e o já era
Sim vives o presente sem espera
Sim, onde estás o real é sombra

Que a tua morte tenha sentido de vida
Que a tua voz alcance os acordes divinos
Que o teu canto de dor transforme em amor
Que o teu outro mundo não tenha espinhos

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