(“in memorium” à minha avó materna Maria Augusta da Silva”)
Já não há o que contar
Já não há mais grandes novidades
Já não há procissões como antigamente
Já não há canções nem festividades
Aqui tudo é vago e finito
Nada se leva deste mundo
Os caminhos são estreitos
Aqui o sublime é imperfeito
Esta vida daqui é uma ironia
Fazias tantas delícias gostosas
E eras, na verdade, diabética
Fazias tudo por prazer e mania
POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?
Quantas fornadas de novidades!
Quantas tachadas de farinha de fubá!
Quantas rosquinhas doces nos patuás!
Quantas delícias nas providades!
E hoje, relembro as tuas histórias:
Os reprisados casos das comadres
Os censurados atos dos padres
As longas caminhadas à Sobrália
POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?
A vizinha que matou 4 maridos
A labuta dos teus 7 filhos queridos
A Revolução de 30 e as perseguições
E a leva de capados sempre magros
Perdão, mas vou recordar um pouco
Lembra-te daquela casa de quintal
Lembra-te daquele cão malhado claro
Lembra-te daquela noite de temporal
O guarda-roupa velho e quebrado
A antiga imagem de Nossa Senhora
O crucifixo de madeira bem guardado
Os óculos caro para toda hora
Ainda te lembras de Pedra Corrida
Da travessia calma no Rio Doce
Do tacho de cobre cheio de doce
E do lampião no canto da sala
POR QUE ME RESPONDES EM SILÊNCIO?
Sim, onde estás não há um tempo
Sim, vives o agora e o já era
Sim vives o presente sem espera
Sim, onde estás o real é sombra
Que a tua morte tenha sentido de vida
Que a tua voz alcance os acordes divinos
Que o teu canto de dor transforme em amor
Que o teu outro mundo não tenha espinhos
18 de novembro de 2008
Já não há o que contar
Postado por
Mauro Lúcio de Paula
às
07:00
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