30 de junho de 2010

Luz e claridade


A setia leva a água
que faz mover o roda-d'água.

a vida dos homens
sem paixão falta luz
e claridade.

fica tão frágil
e seca.

Breve e provisório


quando o povo
estava no deserto
e faltava comida;
o maná caia todos
os dias do céu
para alimentar
os homens famintos;
mas, não podiam guardar.

assim também
é o que sustenta
a nossa vida.

o amor é como o maná
vem do céu;
mas é breve e provisório.

28 de junho de 2010

haicais

à beira da fogueira
na noite mais longa
bandeirolas coloridas

à meia-noite
com os pés descalço
caipiras pulam a fogueira


a lua cheia
aparece no céu
para iluminar a festa

com santo Antônio começa
as festas juninas
e com são Pedro termina

haicais

imóvel no galho
e olhando para o alto
o pássaro entoa seu canto

no ventre da montanha
o rio de águas cristalinas
desce o leito pedregoso.


a primavera espreita
a colina e os vales
com suas lindas flores

cimento e arame farpado
soergueram o muro da vergonha
para segregar os povos

27 de junho de 2010

haicais

a figueira lá no fundo
do quintal é um banquete
para os pássaros famintos

a preguiçosa lagarta
espera a chegada do sol
para devorar as folhas

a alegre cigarra
grita alto seus segredos
chega tarde e morre cedo

25 de junho de 2010

Enchentes

Casas não restam
Amores e dores sim!

As roupas sujas no corpo
sem os cobertores para cobrir
assim ficou a pobre gente
da região do Nordeste
depois das enchentes.

Nem fotos nem memórias
nem flores nem documentos
só a certeza de que o alimento
não vem do céu nem do sertão
mas da solidariedade
de um povo quase feliz.

21 de junho de 2010

Outros mares, outras ilhas

homenagem póstuma ao navegante português, josé, que com suas naus (livros) adentrou meu coração

um engenheiro mecânico
que aprendeu outro oficio.
lidar com as palavras
como Deus lida com as estrelas.
a sua única cegueira –
enxergar as mazelas humanas.
sabia que a paixão
tem vários nomes
e o amor apenas um: pilar.

outros mares, saramago navega!
outras ilhas, saramago escreve!

14 de junho de 2010

Janela

Este belo texto é do meu amigo e colega Luiz Dias
A moça na janela de Salvador Dali


A janela expia a gente de forma tão presente, passado e futuro. Demolida a casa, a janela fica na gente, nunca esquecida. A gente é olhado de forma esquisita pela janela. Nela, a vida passa, os amores chegam e vão embora. Como chegaram, vão; mas, muitos ficam. A janela fica esperando o início de uma nova estória. O sol chega todos os dias e vai embora. A janela, não. Ela espera o sol, as tempestades. Ela vê nossa primeira primavera e a última. Demolida a casa, a janela fica na gente, nunca esquecida...

10 de junho de 2010

Navegar, não é nada preciso

Ana Martins Marques, seus versos não têm ritmos poéticos,
mas é um mar de inquietação e uma eterna espera de ulisses/ausências


mesmo que eu bebesse
toda água salgada
dos mares e dos oceanos
não chegaria ao fundo
dos sentidos e da linguagem
da "vida submarina"
os versos não têm ritmos
nem rimas poéticas;
a pulsação vem do ventre
e de uma incrível equação
do coração e da alma feminina.
parece “um livro mineral
com a atenção dividida entre o céu e as letras,”
e navegar nas suas páginas/águas
não foi nada preciso e suave.

8 de junho de 2010

Muito longe




vinde de longe,
muito mais longe eu vou
sei que o que toco
aqui na terra
aqui na terra vai ficar:
os metais, os rios,
os mares e as montanhas.

dos meus dias
não posso subtrair
nem acrescentar
porque a vida
é apenas um movimento
não é igual ao rio
que constantemente
está seguindo seu leito
até chegar ao mar.

o meu leito não é
aqui na terra.
eu sou de longe
e vou para mais longe.

3 de junho de 2010

Bailarina

hoje é aniversário da minha filha Marjorie Veríssimo

minha filha, fica suspensa
quando baila solta na leveza do ar.
parece uma sombra das espumas do mar.

minha filha, bailarina
faz movimentos nas pontas dos pés
e rodopia com a leveza do corpo.

minha filha, baila sem asas coloridas
pelo céu azul e pela vida sem fim
como uma borboleta brincando
com o vento no jardim.

minha filha é uma linda bailarina.

1 de junho de 2010

Travessia


minha sogra Rita Pulcéria,
viveu quase noventa anos,
entre o córrego Palmital e a morte.

proprietária de pouca terra
e criou poucos filhos.

não sabia ler as letras
mas conhecia as raízes
e as luas.

sabia sim acolher os amigos
como as abelhas sabem
escolher as flores
para extrair o mel.

quase aos noventa anos
minha sogra não morreu
atravessou outro córrego.