13 de maio de 2011

As bordas do tempo

o que há de mais caro
na alma de um poeta?
suas palavras?
seus versos? Não!

é sua capacidade de guardar
para o resto de sua vida,
o silêncio profundo
da igreja Matriz vazia.

lembrar da delicadeza
e do perfume doce e suave
da Dama da Noite
na esquina da rua
sem iluminação.

preservar nas narinas o cheiro
das flores e das velas
da procissão da Semana Santa.

reter nas retinas cansadas
o brilho e os gestos das moças
andando na pracinha pra lá
e pra cá até começar
a sessão do cinema.

o que há de mais caro
na alma de um poeta
são suas lembranças
que rondam as bordas
do tempo.

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