11 de setembro de 2012

Recordação



Já é muito tarde
Para que eu esqueça.

Da minha avó materna
Nas tardes quentes
Sentada no alpendre
Penteando a cabeleira.

Da minha mãe
Depois do banho
Nas tardes frescas
Sentar na porta
Da casa da vizinha
Para jogar conversa fora.

Do meu pai sóbrio
Fazendo palavras cruzadas
Depois do almoço
Para passar a hora mais depressa.

Do vizinho mecânico
Fazendo maior barulho
Para consertar as jardineiras.

Do turco na porta da casa
Com duas muletas e uma perna de pau.

Da pilha de toras de madeira de lei
Invadindo a rua estreita
E atrapalhando quem passava.

Dos rapazes serelepes
Nas noites de lua cheia
Fazendo serenata madrugada adentro
Para moças mais recatadas da cidade.

Dos vários loucos de rua
Que a população cuidava
Com muito carinho e pouco medo.

Não vale a pena chorar
Recordar é muito melhor!

0 comentários: