aprendi a gostar de poema
e de mim apesar desse abissal
que a vida insiste em cavar
vi o apartamento fechado
sem moveis e sem pintura
só o silêncio ao redor
não tenho os braços fortes
sou frágil igual mudança de rico
só sei guardar metáforas antigas
vasculho memória
carrego móveis
invento palavras
sonhos não abrem pálpebras.
as janelas abertas, sim!
deixam a claridade entrar no quarto
as paredes estão sujas
a vida está mais curta
e eu estou cheio de segredos
as montanhas de Minas
moldam meus passos
e as estrelas entrelaçam meus pés
a vida é cheia de apelo
só quero pele, bocas e pelos
o resto vem dos atropelos
a sala é comprida
o quarto é quadrado
e a solidão é tridimensional?
o chão é seboso e escuro
o banheiro é claro e limpo
e a porta tem duas tranca
eu tenho medo de mudar.
casar não posso mais
mas gosto de cheiro de tinta nova
30 de novembro de 2007
haicais
27 de novembro de 2007
23 de novembro de 2007
Nome de menina
O mar só é mar, desprovido de apegos.
Somos pais de verdade quando somos solidão
E os nossos filhos tomam outros rumos outros cais.
Este poema fiz para a minha sobrinha Carolina, que é uma linda moça e uma doçura de pessoa:
Carolina
Nome de menina
Apelido de boneca de pano.
Carolina
Jardim de tarde divina
Com cheiro de menina.
Carolina
Tamanho de mulher
Olhos de criança
Nome de menina.
Carolina
Pode virar Carol
Nome de banda
De fundo de quintal
Mas parece uma menina
Se não parece é quase igual.
Carolina,
Você é tudo!
Mas tem nome de menina!
A vida é assim mesmo
Enquanto a vida
vai passando tão depressa.
Chove lá fora,
o relógio deixa o rastro
das horas que já passaram
e o telefone toca sem parar.
A vida é assim mesmo.
Não vai me esperar fechar a porta,
recolher as flores e saborear os frutos.
A vida é assim mesmo.
É o sol que determina o tempo
É a lua que revela os sonhos.
A vida é assim mesmo.
Não pertence a ninguém.
21/dezembro/2007
22 de novembro de 2007
A Serra do Curral
a serra do curral
esconde uma cidade
com um belo horizonte
busco dentro de mim
única palavra
que não grita... silêncio
acordo cedo todos os dias.
levanto, preparo o café...
e escrevo uma poesia...
não sei se são poemas
mas palavras achadas
dentro do meu silêncio.
a alma para bater asas
só precisa de sonhos
e eu livre ando por essas trilhas
paixão são parede brancas,
noites escuras e lua cheia
– o resto são trilhas estreitas
se a vida é um longo caminho
e o tempo um curto espaço
estas trilhas são os maiores desafios

andei por caminhos e trilhas
atravessei rios e riachos
hoje fico preso em estranhos corredores
sou apenas um grão
no vazio do mundo
entre o céu e a serra
20 de novembro de 2007
haicais
17 de novembro de 2007
A arte de ser feliz
Este texto maravilhoso é da poeta maior, Cecília Meireles, faz parte do meu universo poético. Em toda a minha tragetória literária, estou sempre recorrendo a esta pérola:
"Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."
Cecília Meireles
Haicais
o vento brando de dezembro
traz a chuva e o ano-novo
um facho de luz, uma semente
e o primeiro dia do ano-novo
foram tantas, já não me lembro;
resisto e insisto foi no ano-velho
Precisamos dar um basta
A razão porque deixo aqui este poema, é porque ele retrata a maneira como nós brasileiros estamos combatendo o fogo quando chega dentro da nossa casa, todos muito preocupados com a suas próprias vidas; não são capazes de se emocionar com a guerra civil que estamos enfrentando, famílias dilaceradas, jovens se enveredando para a criminalidade, o nosso governo fingindo que governa, os políticos usurpando e maculando os valores morais da sociedade. Quando vamos acordar e perceber que o Estado está ausente, há muito tempo, da vida do povo, chega de faixas e manifestações com crianças e flores. Eu já vi e lutei contra didatura, chegou a hora de lutarmos contra a didatura do descaso que os nossos governantes e políticos estão fazendo:
Mas não falei, por não ser judeu.
Depois, perseguiram os comunistas.
Nada disse então, por não ser comunista.
Em seguida, castigaram os sindicalistas.
Decidi não falar, por não ser sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos.
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Mas, por essa altura, já não restava nenhuma voz
Que, em meu nome, se fizesse ouvir.
Martin Niemöller ( pastor protestante anti-nazi)
16 de novembro de 2007
Haicais
15 de novembro de 2007
Haicais
Mulher que come chocolate,
nunca se irrita,
apenas fica gorda e bonita.
Mulher doceira
e formiga caseira
encontra-se em todo lugar.
No coração do inverno
a única folha no galho
luta contra o vento.
Cada onda
reflete na areia
a nova lua cheia.
14 de novembro de 2007
Homenagem
A minha amiga Sílvia Rubião, graduada em Comunicação Social, trabalha como consultora na área de Comunicação e desenvolve projetos editoriais. Em agosto de 2005 estreou na poesia, com o livro Tangências. Para não passar em branco esse acontecimento tão importante mais poemas e versos sendo lançados pelos vales e montanhas das Gerais fiz este poema:
A têmpera e o tempo
à Sílvia Rubião
Das montanhas de Minas
extrai-se o manganês
para apurar o ferro e separar o aço.
O fogo e o ar fazem a têmpera.
Das entranhas da terra
brotam as águas cristalinas
que correm para o mar.
Mas é no coração das gentes mineiras
que oxida a palavra indecifrável,
o verso quase garimpado
e o poema há muito tempo guardado.
A chuva não interrompe.
O sol escaldante não paralisa
e o tempo não esconde.
Porque o poeta é a brisa ao amanhecer
o brilho e a luz ao entardecer.
Mauro Lúcio de Paula
24/8/2005
13 de novembro de 2007
Pode me cheirar
Vem, minha filha, vem!
pode me cheirar
como o colibri cheira a flor.
Chega mais longe
não é quem pensa,
mas quem tem vontade
e sabe que é preciso voar.
Vem, minha filha, vem!
Mesmo quando se perde as asas
É preciso voar.
A distância é apenas
a sombra dos vultos.
Vem, minha filha, vem!
Pode me cheirar
Não ando mais por praias desertas
Faço companhia para as gaivotas
Que deslizam sobre o mar e entre o vento.
É por isso que viver não é tão preciso
E parar de fumar é mais que necessário.
Vem, minha filha, vem!
Pode me cheirar.
12 de novembro de 2007
Os anjos
Fiz este poema para homenagear os meus amigos do grupo antibagismo que me ajudaram a parar de pitar:
Maiakovski disse
Que ninguém consegue
Acabar com o amor
Nem as rugas
Nem a distância.
Isso é verdade e, eu afirmo,
Solenemente,
Que é por causa dos anjos
Que estão por aí.
Há mais de um ano
Fazem parte da minha vida.
Eles têm bocas,
Têm cheiros e têm profissão.
Acima deles, só Deus.
Hoje eu convivo com eles
Um na companhia do outro
Como se tudo nesta vida
Fosse harmonia e alegria.
6/9/2007
(um dia de despedida)
haicais
8 de novembro de 2007
A casa da esquina
Naquela casa da esquina.
Minha avó paterna fazia quitandas
Os amigos dos amigos dos 10 filhos
Se reuniam para contar histórias
E jogar conversa fora.
Naquela casa da esquina.
Os carteiros antes de entregarem as cartas
Passavam por lá para tomar um cafezinho
Ou beber um copo de água fresca para matar a sede.
Naquela esquina passavam os bois e as boiadas.
Até o trem, em um passado bem distante,
Já passou vagarosamente.
Naquela casa da esquina vinham os doentes
De toda cidade e redondezas
Para tratar das febres e dos sarampos
Com os remédios caseiros e manipulados.
Naquela esquina a casa amanhecia
Com a cantoria dos pássaros
E assistia a tarde esconder
Mansamente atrás do morro.
Naquela casa da esquina, eu nasci.
6 de novembro de 2007
Acorda cedo
Se você quer alguma coisa,
acredite que pode alcançar
basta abrir as mãos,
dar os primeiros passos,
persistir no caminho
e acordar bem cedo.
É a brisa da manhã
que alimenta os sonhos.
A vida é matutina.
Se você quer alguma
acorda cedo e olha para cima.
Travessia
Ninguém atravessa o deserto
se não tiver coragem
de enfrentar o sol
que brilha o dia inteiro.
Ninguém alcança seus objetivos
se não correr atrás dos sonhos
que um dia ousou contar
quando o dia amanheceu.
Ninguém chega a lugar algum
olhando a estrada vazia
mas não põe de verdade
os pés no caminho de terra batida.
3 de novembro de 2007
Bodas de Prata
haicais
a abelha procura o mel
as noites avançam para a claridade
o poema não substitui um beijo
muito além da noite
muito aquém da aurora
é na escuridão que nascem as estrelas
o poema se faz sem a menor sutileza
e se me escapa como um pássaro
ficam resquícios nas pontas dos dedos
o que restou é irrisório:
um facho de luz, uma semente
e o primeiro dia do ano-novo
nasci entre montanhas e rios
a noite não precisa de estrelas
ouço os ventos e me calo no silêncio
Tudo que existe entre a alma e o olhar
por mais claro que seja não decifra
– a vida não cabe nas palavras
Tudo que tenho são essas mãos vazias
os ouvidos atentos à quietude da alma
e os olhos fixos no vazio do dia
É pelos atalhos que vou mais seguro
porque toda distância tem um fim
e todos os caminhos levam ao mesmo infinito
Marcadores: a
2 de novembro de 2007
Haicais
as águias conhecem as montanhas
os lobos sabem apreciar a noite
só um homem em paz suporta o silêncio
As nossas palavras silenciosas
podem tocar a brisa que cobre a relva
mas não podem mover um coração insensível
Passa rápido o que se pensa
fica para sempre o que se escreve
só sinto vertigem quando penso