28 de fevereiro de 2013

as tardes

lembro-me do calor
que fazia nas tardes de março
os sanhaços cantavam alegres
no pé de mamão macho
plantado nos fundos do quintal

minha mãe, mandava as crianças
com muito cuidado,
colher os figos bem verdes
para fazer os doces de compota
que enfeitavam a cristaleira
durante todo o ano

meu pai, logo cedo, se irritava
com o barulho da oficina mecânica

na subida da rua sem calçamento
o vendedor de loteria magricelo
gritando feito louco:
olha a vaca! olha o porco!
é a sorte grande chegando!

à noite luzia os vaga-lumes
na beirada do barranco
perto da escadaria do morro

ao sair da minha cidade
para procurar espaço e liberdade
o meu corpo ficou exposto à solidão
e a minha alma se apegou às memórias

1 comentários:

Adriana Godoy disse...

Que delícia! Essas lembranças, essas tardes, em que tudo parecia fazer sentido, em que tudo era paz. beleza! Bj